Vídeos de influencer confundem idosas e geram alerta entre familiares

No TikTok, o conteúdo produzido por José Fernandes tem chamado a atenção não apenas pela alta taxa de engajamento, mas pelo impacto emocional que tem causado em um grupo específico de seguidores: mulheres idosas. Com um estilo romântico e sedutor, o influencer mineiro construiu uma persona carismática e envolvente, que fala diretamente à câmera como se estivesse em um encontro íntimo.

Esse estilo, no entanto, tem provocado confusões entre seguidoras mais velhas que, com pouca familiaridade com plataformas digitais, interpretam os vídeos como interações pessoais. Algumas chegam a acreditar que estão em um relacionamento afetivo com o criador de conteúdo e respondem aos vídeos como se estivessem em chamadas ao vivo.

"Eu te amo muito meu amor. Eu estou sofrendo. Sofrendo muito por causa de você, meu amor. Zé eu estou chorando de saudades\

, declarou uma seguidora emocionada em um dos vídeos do influenciador, onde ele aparece cantando e segurando uma rosa.

A situação tem gerado inquietação entre familiares e especialistas. Em casos mais extremos, idosas já compartilharam informações pessoais como endereços nos comentários públicos dos vídeos. A imagem de José tem sido inclusive utilizada por criminosos em tentativas de golpe, aproveitando-se da vulnerabilidade emocional desse público.

Luiz Alves Ferreira Junior, professor de Psicologia na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, destaca que o isolamento social comum na velhice pode contribuir para esse tipo de confusão:

“A falta de suporte social afetivo pode gerar uma falsa sensação de proximidade com o criador de conteúdo, especialmente quando ele usa uma linguagem direcionada como se estivesse conversando pessoalmente”

.

Paulo Hospodar, psicogeriatra, reforça o papel da família nesses casos. Segundo ele, a entrada no ambiente digital pode ser positiva, mas quando feita sem acompanhamento, transforma-se em armadilha. “O idoso com vínculos sociais frágeis tende a buscar mais nos aplicativos um substituto para o afeto que falta no dia a dia”, pontua.

Para evitar esse tipo de situação, a psicóloga Paula Coaglio recomenda que os familiares mantenham um diálogo constante com os idosos, explicando como funcionam as redes sociais e alertando sobre riscos potenciais.

“O mais importante é que o idoso saiba que pode contar com alguém para conversar e esclarecer dúvidas. Isso precisa ser feito com leveza e frequência”

, aconselha.

Quanto ao conteúdo de José Fernandes, o próprio influencer já se posicionou, explicando que seus vídeos têm caráter exclusivamente profissional. “Sou um criador de conteúdo aqui na plataforma, sou um personagem, não estou à procura de um relacionamento”, afirmou em um dos vídeos.

Mesmo assim, sua estratégia tem dado retorno financeiro. Com mais de 701 mil seguidores e 18,4 milhões de curtidas, José monetiza seu perfil por meio do sistema do TikTok, que paga com base no número de visualizações. Segundo o advogado Stéfano Ferreira, a plataforma paga cerca de U$0,14 para cada mil visualizações. Já Adrielle Martins, também especialista em marketing digital, aponta uma estimativa maior, entre 4 a 10 dólares para cada 10 mil visualizações, podendo chegar até 100 dólares em vídeos de 100 mil visualizações.

Para que um criador possa monetizar na plataforma, é necessário cumprir requisitos como ter mais de 10 mil seguidores, vídeos com mais de um minuto de duração e respeitar as diretrizes da comunidade. Os pagamentos são feitos em dólar, mensalmente, e variam conforme fatores como originalidade do conteúdo, retenção do público e engajamento.

O caso de José Fernandes levanta um debate importante sobre o impacto emocional do conteúdo digital em públicos vulneráveis e a responsabilidade de criadores e famílias nesse contexto.