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Economia
Apostas online causam prejuízo anual de R$ 38,8 bilhões ao Brasil, aponta estudo
Levantamento estima 17,7 milhões de apostadores em seis meses, critica baixa contribuição ao SUS e alerta para impacto de jogos de azar em saúde mental, emprego e famílias vulneráveis
02/12/2025 às 11:19por Redação Plox
02/12/2025 às 11:19
— por Redação Plox
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Jogos de azar e apostas online, popularizadas pelas chamadas bets, geram perdas econômicas e sociais estimadas em R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil. O montante reúne impactos como suicídios, desemprego, gastos com saúde e afastamentos do trabalho.
Apostas em jogos de azar
Foto: Agência Senado
O dado é do estudo inédito A saúde dos brasileiros em jogo, divulgado nesta terça-feira (2). A pesquisa analisa os efeitos da expansão das apostas online no país e calcula o peso da atividade para a saúde pública e para a economia.
Para dimensionar a cifra, os autores destacam que os R$ 38,8 bilhões equivaleriam a uma expansão de 26% no orçamento do Minha Casa, Minha Vida em 2024 ou a um aumento de 23% nos recursos do Bolsa Família em 2024.
O levantamento é resultado de uma parceria entre o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), a organização Umane e a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM), que reúne quase 200 parlamentares no Congresso Nacional.
Impacto das apostas na saúde e na vida das famílias
Os pesquisadores estimam que o Brasil teve 17,7 milhões de apostadores em apenas seis meses. Com base em levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o estudo aponta ainda que cerca de 12,8 milhões de pessoas estão em situação de risco em relação às apostas.
Inspirados em um estudo britânico sobre os efeitos dos jogos, os autores projetaram o tamanho das perdas diretas e indiretas para o Brasil e chegaram aos seguintes valores anuais:
- R$ 17 bilhões por mortes adicionais por suicídio
- R$ 10,4 bilhões por perda de qualidade de vida associada à depressão
- R$ 3 bilhões em tratamentos médicos para depressão
- R$ 2,1 bilhões em gastos com seguro-desemprego
- R$ 4,7 bilhões em custos de encarceramento ligados à atividade criminal
- R$ 1,3 bilhão em perda de moradia
Do total projetado, 78,8% (R$ 30,6 bilhões) estão relacionados a custos de saúde.
O documento destaca que estudos internacionais recentes apontam associação entre transtorno do jogo e agravamento de quadros de ansiedade, depressão e risco de suicídio, usando estimativas monetárias para medir perdas de qualidade e duração de vida.
Segundo os pesquisadores, o crescimento acelerado das apostas online, impulsionado por tecnologia, ausência de regulação robusta, ampla exposição na mídia e falta de políticas públicas estruturadas, já se reflete em maior endividamento das famílias, aumento de transtorno do jogo e agravamento do sofrimento mental.
Arrecadação das bets não cobre custos sociais
Dados do Banco Central indicam que os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às bets em 2024. Em agosto do mesmo ano, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas, por meio de Pix.
As bets foram legalizadas em 2018, regulamentadas apenas em 2023 e passaram a recolher mais impostos a partir de 2025. Até setembro deste ano, a arrecadação chegou a R$ 6,8 bilhões, aproximando-se de R$ 8 bilhões no mês seguinte, segundo o relatório.
O estudo salienta que, mesmo considerando uma projeção de R$ 12 bilhões em arrecadação anual, o valor é insuficiente diante do custo estimado de R$ 38,8 bilhões, o que evidencia um descompasso entre o retorno fiscal e o impacto sobre a sociedade.
Atualmente, as bets pagam 12% de tributação sobre a receita bruta. Tramita no Senado o Projeto de Lei 5473/2025, que propõe elevar a alíquota para até 24%. Além disso, os apostadores são tributados em 15% de Imposto de Renda sobre os prêmios.
Os autores criticam o fato de apenas 1% da arrecadação das bets ser destinado ao Ministério da Saúde. Até agosto, o repasse efetivo somava R$ 33 milhões, sem vinculação específica ao financiamento de ações na Rede de Atenção Psicossocial (Raps), estrutura do SUS dedicada ao cuidado em saúde mental.
Riscos sem regulação firme e políticas de proteção
Para a diretora de Relações Institucionais do Ieps, Rebeca Freitas, a falta de regulação rigorosa aumenta o potencial dano das bets para a população, sobretudo entre grupos vulneráveis. Ela defende que a discussão central seja a proteção dos brasileiros, num contexto em que as apostas já fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas.
Na avaliação da diretora, porém, o cenário atual caminha na direção oposta, com forte estímulo comercial e exposição intensa.
A prática está sendo incentivada por um lobby comercial poderoso, ainda que às custas da saúde do povo brasileiroRebeca Freitas
CPI das Bets termina sem aprovação de relatório
Os efeitos das apostas online foram tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. A investigação mirou o impacto das bets no orçamento das famílias, possíveis vínculos com o crime organizado e a atuação de influenciadores que promovem as plataformas.
O relatório final, que pedia o indiciamento de 16 pessoas, foi rejeitado pelos parlamentares. Foi a primeira vez, em dez anos, que uma CPI do Senado teve o parecer derrubado.
Poucos empregos e alta informalidade no setor
Na dimensão econômica, o estudo classifica a atividade das bets como irrisória em termos de geração de empregos e renda para trabalhadores.
Com base em dados do Ministério do Trabalho, o levantamento aponta que o setor contava com 1.144 empregos formais. Em relação à distribuição de renda, a estimativa é de que, a cada R$ 291 de receita obtida pelas empresas, apenas R$ 1 se converta em salário formal.
De acordo com o estudo, cada trabalhador formal do segmento gera cerca de R$ 3 milhões mensais em receitas para as empresas, mas recebe apenas 0,34% desse valor.
O documento chama atenção ainda para a alta informalidade: 84% dos trabalhadores das bets não contribuíram para a previdência em 2024, enquanto a média da economia brasileira era de 36%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE.
Medidas adotadas no Reino Unido
O dossiê apresenta ações em vigor no Reino Unido para prevenção, tratamento e regulação do setor de apostas, usadas como referência pelos pesquisadores. Entre as medidas listadas estão:
- Autoexclusão: mecanismo que permite ao usuário bloquear o próprio acesso a todos os sites licenciados por até cinco anos.
- Restrição à publicidade: anúncios são permitidos, mas altamente regulados; não podem sugerir que o jogo seja solução para problemas financeiros, ter como alvo menores de idade ou usar influenciadores e celebridades com forte apelo junto ao público jovem.
- Destinação de parte da arrecadação à saúde: 50% do que as bets pagam em imposto é direcionado ao tratamento das pessoas afetadas pelo jogo.
Cinco caminhos propostos para o Brasil
Na avaliação de Rebeca Freitas, “uma vez que a proibição ainda não está em pauta”, o Ieps propõe um conjunto de medidas para reduzir danos associados às apostas no país. As sugestões são:
- Ampliar a parcela da taxação das apostas online destinada à saúde;
- Capacitar profissionais para acolhimento no SUS em temas relacionados ao jogo;
- Proibir propagandas e realizar campanhas nacionais de conscientização;
- Restringir o acesso, principalmente para pessoas com perfil de risco e menores de idade;
- Implementar regras rígidas para as empresas de apostas, voltadas a maior retorno financeiro ao país, combate à corrupção e fortalecimento de políticas públicas de monitoramento.
Na visão da diretora, se a legalização das apostas se consolidar como caminho definitivo, o Estado terá de assumir o compromisso de mitigar danos e estruturar políticas sólidas de redução de riscos.
Setor de apostas reage a possível aumento de impostos
O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), criado em 2023, reúne as principais empresas de apostas do país e afirma representar cerca de 75% do mercado brasileiro.
Em conteúdo reproduzido no perfil da entidade no LinkedIn, o IBJR se posiciona contra o aumento da carga tributária sobre o setor, argumentando que a medida poderia fortalecer o mercado clandestino de apostas.
Para o instituto, a oferta legal limitada por tributação elevada fragilizaria o segmento regulado, incentivando a migração de operadores para a informalidade e prejudicando tanto a competitividade quanto a arrecadação esperada pelo governo.
Segundo o IBJR, mais de 51% das apostas virtuais no Brasil ocorrem na clandestinidade.
Descrito por moradores como briguento e temido, Douglas Alves da Silva, 26, é investigado por atropelar e arrastar a ex-companheira, Tainara Souza Santos, na Marginal Tietê, causando a amputação das duas pernas, em um ataque que a polícia atribui a ciúmes e à recusa em aceitar o fim do relacionamento.
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