Recuperação da defasagem educacional causada pela pandemia é possível, aponta pesquisa

Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LaPOpE) revelou que a defasagem no aprendizado causada pela pandemia pode ser recuperada. O estudo, intitulado "Recomposição das aprendizagens e desigualdades educacionais após a pandemia covid-19: um estudo em Sobral/CE", foi apoiado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e analisou o ritmo de aprendizagem de crianças que frequentaram o segundo ano da pré-escola entre 2019 e 2022 na rede pública municipal de Sobral (CE).

Impacto da pandemia no aprendizado

Os resultados mostram que crianças que frequentaram o segundo ano da pré-escola em 2020, com nove meses de atividades remotas devido à pandemia, tiveram perda de 6 a 7 meses de aprendizagem em linguagem e matemática se comparadas àquelas que vivenciaram o mesmo período da pré-escola em 2019, com ensino presencial. No entanto, crianças que frequentaram o segundo ano da pré-escola em 2022, com a volta das atividades presenciais, tiveram ganho de 1 a 2 meses na comparação com os alunos do mesmo período letivo em 2019.

Segundo Mariane Koslinski, pesquisadora do LaPOpE e uma das responsáveis pelo estudo, as incertezas da pandemia, as interrupções nas atividades e o período de adaptação ao modelo remoto impactaram diretamente no ritmo de aprendizagem das crianças. Entretanto, a recuperação do ritmo de aprendizagem das crianças que concluíram a educação infantil em 2022 chama atenção. Mariane afirma: “O que os resultados indicam é que, provavelmente, as ações da rede de educação de Sobral foram importantes para mitigar os efeitos da pandemia e acelerar o ritmo de desenvolvimento dessas crianças”.

Ações para mitigar os efeitos da pandemia

Dentre as ações realizadas em Sobral, destacam-se programas de busca ativa, ampliação da oferta de tempo integral e a implementação de novo currículo para a Educação Infantil alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que os resultados do estudo não devem ser interpretados como um retrato do que aconteceu no resto do país. Beatriz Abuchaim, gerente de Conhecimento Aplicado e especialista em educação infantil da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, afirma que o desafio atual ultrapassa as esferas educacionais e que as ações devem ser integradas, contemplando diversas esferas e níveis de governo.

Recomendações para gestores

O estudo apresenta uma série de recomendações para gestores de diferentes níveis a fim de mitigar os problemas apontados. Entre elas, destaca-se o protagonismo do Ministério da Educação na elaboração de um plano nacional de recuperação de aprendizagem, além de apoio técnico e financeiro por parte das secretarias estaduais de educação aos municípios. As secretarias municipais de educação, por sua vez, devem implementar programas de busca ativa de crianças com foco na educação infantil e elaborar diagnósticos sobre os efeitos da pandemia no desenvolvimento das crianças e nas taxas de abandono e evasão escolar.

Para os diretores e professores, a pesquisa sugere promover maior integração entre famílias e escolas, incorporando estratégias bem-sucedidas de comunicação com as famílias utilizadas durante a pandemia.

O estudo ressalta a importância da cooperação entre diferentes níveis governamentais e áreas de atuação para enfrentar os desafios impostos pela pandemia na educação e promover a recuperação do aprendizado dos estudantes. A pesquisa realizada em Sobral demonstra que, com ações efetivas e integradas, é possível recuperar a defasagem no aprendizado causada pela pandemia e garantir um futuro promissor para as crianças brasileiras.