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Relatório revela que mulheres seguem com salários até 21% menores no setor privado

Estudo do Ministério do Trabalho mostra aumento da disparidade salarial, dificuldades para promoção e maior desigualdade para mulheres negras no Brasil.

03/11/2025 às 09:23 por Redação Plox

As mulheres que atuam no setor privado brasileiro continuam enfrentando uma significativa desigualdade salarial em comparação com os homens. Segundo o Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), elas recebem, em média, 21,2% a menos do que seus colegas do sexo masculino.

Mulheres têm salários inferiores aos dos homens no setor privado

Mulheres têm salários inferiores aos dos homens no setor privado

Foto: Reprodução

Desigualdade crescente no setor privado

A análise se baseia em dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) e incluiu avaliações de cerca de 54 mil empresas com mais de 100 funcionários, entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025. O estudo indica que a disparidade salarial vem aumentando: no início de 2024, estava em 19,4% e, após sucessivas altas, chegou aos atuais 21,2%.

Esse cenário reforça informações do último Censo do IBGE, que aponta que, mesmo com escolaridade superior, as mulheres recebem cerca de 20% a menos do que os homens no país.

Participação e remuneração ainda desiguais

O levantamento do MTE analisou mais de 19,4 milhões de vínculos empregatícios no setor privado. Destes, 41,1% são ocupados por mulheres e 58,9% por homens. A média salarial feminina é de R$ 3.908,76, enquanto a masculina está em R$ 4.958,43.

No universo das grandes empresas, o número de mulheres empregadas passou de 7,2 milhões em 2023 para 8 milhões em 2025, elevando a participação feminina de 40% para 41,1%. Mesmo com esse crescimento, a massa de rendimentos das mulheres representa apenas 35% do total pago pelo setor.

Se o avanço feminino refletisse igualmente sobre os salários, estima-se que R$ 92,7 bilhões poderiam ser injetados na economia.

Retrato da desigualdade por raça

A disparidade salarial se aprofunda para mulheres negras. O estudo mostra diferença de 33,5% nos salários medianos de admissão entre mulheres negras (R$ 1.836,00) e homens não negros (R$ 2.764,30). Quando considerado o rendimento médio, a distância é ainda maior: 53,3% — mulheres negras recebem, em média, R$ 2.986,50; homens não negros, R$ 6.391,94.

A inserção das mulheres no mercado não basta. É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Temos como compromisso intensificar medidas que resolvem essas distorções, promovam políticas de apoio, como a ampliação da licença-paternidade e o auxílio-creche – Márcia Lopes, ministra das Mulheres

Entre 2023 e 2025, aumentou em 21,1% o número de empresas com pelo menos 10% de mulheres negras, passando de 29 mil para 35 mil companhias. No mesmo período, subiu para 6,4% o total de empresas onde a diferença salarial entre homens e mulheres não ultrapassou 5%.

Estados com maiores e menores desigualdades

Entre os estados com maior discrepância salarial estão Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Mato Grosso, todos com diferença em torno de 28%. Em contraste, Piauí, Amapá e Acre apresentam as menores desigualdades, com percentuais inferiores a 10%.

Motivos apontados e ações empresariais

O relatório do MTE revela que as principais justificativas das empresas para as diferenças salariais são: tempo de experiência na empresa (78,7%), cumprimento de metas de produção (64,9%) e existência de planos de carreira (56,4%).

No entanto, apenas 38,9% das companhias dizem ter políticas de promoção para mulheres, enquanto 21,9% oferecem auxílio-creche e 20,9% adotam licença parental estendida. Flexibilidade de jornada é oferecida em 44% das empresas.

Medidas para diversidade e inclusão

Entre as ações para promover a diversidade, as empresas relatam as seguintes práticas:

  • 38,9% têm políticas de promoção de mulheres;
  • 29,6% incentivam a contratação de mulheres;
  • 23,1% promovem a contratação de mulheres negras;
  • 19,7% apoiam a contratação de mulheres com deficiência;
  • 18,8% estimulam a inclusão de pessoas LGBTQIA+;
  • 18,9% priorizam mulheres chefes de família;
  • 7,8% incentivam mulheres indígenas;
  • 7,3% focam na contratação de mulheres vítimas de violência.

Para o Ministério do Trabalho, ampliar licenças parentais e facilitar o acesso a creches são iniciativas essenciais para fortalecer a presença feminina no mercado de trabalho.

As empresas precisam avançar na construção de planos de ação que promovam a igualdade salarial entre homens e mulheres dentro de suas empresas. Precisamos acelerar esse processo – Paula Montagner, subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho

Potencial de crescimento econômico

Estudo da Organização Internacional do Trabalho estima que o Brasil poderia ampliar sua economia em R$ 382 bilhões ao adotar políticas para a igualdade de gênero. O Banco Mundial aponta que a economia global poderia crescer mais de 20% se as mulheres tivessem as mesmas oportunidades que os homens.

Fiscalização e cumprimento das normas

Em 2025, a fiscalização do Ministério do Trabalho contabilizou 787 ações, atingindo cerca de 1 milhão de empregados. Destas operações, 319 já foram concluídas e 154 autos de infração foram emitidos.

As empresas continuam obrigadas a publicar seus relatórios de igualdade salarial. Segundo o levantamento, 71% das mais de 54 mil empresas analisadas fizeram o download desse documento e cerca de 31 mil informaram os sites onde os dados podem ser consultados.

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