Em meio a uma crise financeira considerada grave, os Correios decidiram suspender o pagamento do tradicional crédito extra de fim de ano a seus empregados em 2025. Conhecido como “vale-peru”, o benefício havia sido concedido no ano passado, no valor de R$ 2.500 por funcionário.
Trabalhadores ficarão sem benefício neste Natal
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A direção da estatal já comunicou aos trabalhadores que o pagamento não será feito neste Natal. A empresa prorrogou a vigência do acordo coletivo de trabalho até 15 de dezembro, mas excluiu justamente a cláusula que previa a concessão do “vale-peru”.
Em 2024, já sob dificuldades crescentes e acumulando prejuízos, os Correios desembolsaram cerca de R$ 200 milhões com o crédito extra. O pagamento foi dividido em duas parcelas: a primeira, de R$ 1.000, quitada em setembro ou dezembro daquele ano; a segunda, de R$ 1.500, paga até o quinto dia útil de janeiro de 2025.
O crédito extra previsto nessa cláusula já foi totalmente pago, dentro do prazo, sem nenhum prejuízo para as trabalhadoras e trabalhadores
comunicado divulgado aos funcionários
A prorrogação do acordo coletivo sem o “vale-peru” ocorre em meio ao impasse nas negociações entre a empresa e os empregados para firmar um novo documento, que deverá valer para 2025 e 2026.
O acordo coletivo anterior venceu em 31 de julho deste ano e vem sendo estendido sucessivamente. Com as contas no vermelho, a estatal afirma não enxergar espaço para conceder reajustes salariais neste momento.
No dia 4, o Sintect-SP (Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios, Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e zona postal de Sorocaba) aprovou um indicativo de greve para 16 de dezembro, a partir das 22h.
Os Correios calculam necessidade de R$ 20 bilhões até o fim de 2026 para tocar um amplo plano de reestruturação, que inclui a regularização de dívidas com fornecedores e bancos, um novo programa de demissão voluntária (PDV) para desligar ao menos 10 mil empregados e mudanças na estrutura de cargos, salários e no plano de saúde.
Para levantar esses recursos, a empresa negocia um empréstimo com bancos públicos e privados, com garantia do Tesouro Nacional. Na prática, isso significa que a União assume o compromisso de pagar as parcelas caso haja inadimplência, reduzindo quase a zero o risco para as instituições financeiras.
O conselho de administração dos Correios chegou a aprovar a contratação do crédito em linha com a proposta apresentada por cinco bancos — Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra. O Tesouro Nacional, porém, recusou-se a oferecer a garantia diante do patamar elevado dos juros.
A proposta previa custo próximo de 136% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), algo em torno de 20% ao ano. O comitê de garantias do Tesouro, no entanto, fixou como teto 120% do CDI, ou cerca de 18% ao ano, para operações semelhantes com prazo de dez anos.
Desde o anúncio da suspensão, em 2 de dezembro, os Correios tentam renegociar as condições do empréstimo com os bancos, mas ainda não há definição.
A conclusão desse financiamento é vista internamente como fundamental para dar fôlego de caixa à estatal. A companhia acumula prejuízos desde 2022 e, apenas até setembro deste ano, registrou resultado negativo de R$ 6,1 bilhões.
Projeções internas apontam que o déficit pode se aproximar de R$ 10 bilhões ao fim de 2025. Sem a entrada de novos recursos, o cenário pode piorar rapidamente. A empresa trabalha com a possibilidade de o prejuízo chegar a R$ 20 bilhões em 2026, pressionado por contratos que preveem multas em caso de atraso nos pagamentos.
Em um cenário extremo, estimativas internas indicam que o rombo poderia alcançar a casa dos R$ 70 bilhões em cinco anos. Nessa hipótese, a estatal caminharia para uma situação de virtual falência, com necessidade de demissões em massa e altos custos trabalhistas, o que ampliaria ainda mais o passivo.
Os Correios acumulam perdas recorrentes desde 2022 e, até setembro deste ano, somaram prejuízo de R$ 6,1 bilhões. Diversos fatores ajudam a explicar a deterioração das contas.
Concorrência: o fim do monopólio no transporte de encomendas, em 2009, abriu espaço para empresas privadas de logística. A estatal manteve exclusividade apenas em cartas, cartões postais e malas diretas — serviços que perderam relevância com o avanço da economia digital.
“Taxa das blusinhas”: a cobrança de impostos sobre encomendas internacionais de até US$ 50 afetou negativamente a receita da empresa, que também perdeu exclusividade na importação desse tipo de mercadoria.
Despesas crescentes: mesmo já pressionada em 2024, a companhia concedeu reajuste linear de 4,11% a mais de 55 mil empregados, resgatou cláusulas consideradas benevolentes, como adicional de 70% sobre as férias (acima do terço usual), e realizou concurso para mais de 3.000 vagas, embora os aprovados ainda não tenham sido convocados.
Redução do caixa: a empresa consumiu recursos próprios para investir em veículos elétricos e itens de tecnologia quando a situação financeira já era delicada.
Plano de saúde: os Correios são mantenedores do plano de saúde dos empregados, assumindo todos os riscos e eventuais débitos. Em 2022, o estatuto permitiu migrar para o regime de patrocínio, menos oneroso, mas essa mudança foi revertida no governo Lula.
Descontrole sobre ações judiciais: a estatal não dispunha de diagnóstico preciso sobre os processos de que é alvo, especialmente trabalhistas, o que levou inclusive a ressalvas no balanço por parte da auditoria independente. Os gastos com precatórios tiveram peso relevante nos prejuízos recentes.
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