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Saúde
Losartana: risco de vício, tempo de uso e alerta sobre problema de saúde pública
Genérico mais vendido do país, losartana é eficaz, barata e distribuída de graça pelo SUS, mas especialistas alertam que o remédio não trata a causa da hipertensão, pode mascarar outros problemas e não substitui mudanças no estilo de vida
05/12/2025 às 08:34por Redação Plox
05/12/2025 às 08:34
— por Redação Plox
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Em milhões de lares brasileiros, o dia começa com o mesmo gesto: engolir um comprimido de losartana. O hábito diz muito sobre a saúde do país. O medicamento é hoje o genérico mais vendido do Brasil, à frente de analgésicos populares como dipirona e nimesulida.
O medicamento é hoje o genérico mais vendido do país, superando até analgésicos populares como dipirona e nimesulida
Foto: Reprodução
O protagonismo do remédio não se explica apenas pelo envelhecimento da população. Para o cirurgião cardiovascular Ricardo Katayose, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o cenário revela um país que se move pouco, dorme mal, se alimenta mal e chega tarde ao diagnóstico.
O país tem alta incidência de hipertensão, uma prevalência acima da curva, reflexo de falhas nos cuidados primários.
Ricardo Katayose
Os dados confirmam o alerta: três em cada dez adultos brasileiros têm pressão alta, acima da média global de 24%. A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão, publicada em 2025, deixou o quadro ainda mais rígido ao classificar 12x8 como pré-hipertensão, ampliando o grupo de pessoas consideradas de risco.
Envelhecimento, sedentarismo, metas de controle mais duras e um sistema que falha na prevenção ajudam a explicar o avanço da losartana. O restante está na forma como o país organiza seu cuidado em saúde: o Brasil trata, mas não previne.
Como a losartana atua no organismo
Para entender por que a losartana se tornou tão usada, é preciso olhar para o mecanismo que ela tenta regular. Os vasos sanguíneos funcionam como tubos capazes de se contrair ou relaxar. Quem coordena esse ajuste é o sistema renina–angiotensina–aldosterona, responsável por controlar a pressão e o volume de líquidos no corpo.
Quando a pressão cai, o rim libera renina, que transforma uma molécula intermediária, a angiotensina I (AT1), em angiotensina II. Esse hormônio contrai os vasos e estimula a liberação de aldosterona, substância que faz o organismo reter sódio e água. O resultado é aumento do volume circulante e, consequentemente, da pressão arterial.
Esse sistema deveria entrar em ação apenas em situações de queda de pressão. Na hipertensão, porém, ele permanece hiperativado, como se o corpo estivesse em alerta constante.
É justamente nessa etapa final que a losartana atua: ela bloqueia o receptor AT1 da angiotensina II, impedindo que o vaso sanguíneo receba o comando para se contrair. Com isso, a pressão tende a cair.
A fórmula é considerada eficaz, segura e previsível. Mas não é só isso que sustenta a liderança do remédio no mercado. A losartana é barata, produzida no país e disponível gratuitamente no SUS, o que favorece a adesão ao tratamento.
Onde a losartana se encaixa entre os anti-hipertensivos
Apesar de ser a face mais conhecida do tratamento da pressão alta, a losartana está longe de ser a única alternativa — e, em muitos casos, nem é a principal. O cardiologista Márcio Sousa, chefe do Ambulatório de Hipertensão do Instituto Dante Pazzanese, destaca que o tratamento é sempre individualizado, porque diferentes mecanismos podem estar mais ativados em cada paciente.
No Brasil, há três grandes classes de medicamentos usadas como primeira linha:
Diuréticos — Ajudam a eliminar sal e água, reduzindo o volume de sangue circulante. São eficientes, baratos e frequentemente usados como base da terapia.
Bloqueadores de canais de cálcio — Fármacos como anlodipina e nifedipina relaxam e dilatam artérias mais finas, diminuindo a resistência dos vasos.
Bloqueadores do sistema renina–angiotensina–aldosterona — É o grupo de losartana, candesartana e omesartana. Eles impedem que a angiotensina II, substância que contrai as artérias, exerça seu efeito.
Sousa relembra que a losartana foi o primeiro representante dessa classe, lançado nos anos 1990, o que ajudou na popularização. O remédio, porém, tem particularidades: seu efeito é melhor quando a dose é dividida ao longo do dia (25 mg ou 50 mg a cada 12 horas), o que limita seu uso como monoterapia única em alguns casos.
Por outro lado, a losartana tem vantagens específicas, como ajudar a reduzir o ácido úrico, beneficiando pacientes com níveis elevados da substância.
Já os representantes mais novos da mesma classe — como candesartana e omesartana — apresentam ligação mais forte ao receptor, maior duração de ação e eficácia comprovada em dose única diária, o que tende a facilitar a adesão. Ainda assim, especialistas reforçam que não existe um único “remédio certo” para todos os perfis.
Sousa também destaca que a losartana não “vicia” nem “faz o corpo depender” do uso contínuo. O medicamento pode ser utilizado por toda a vida, mantendo seu efeito.
Remédio controla, mas não resolve a causa
A boa tolerabilidade e a eficácia da losartana também a aproximaram de um outro traço típico do país: o uso de medicamento sem avaliação adequada.
Segundo Katayose, muitas pessoas começam a tomar o comprimido porque alguém da família usa, porque o vizinho recomendou ou porque a pressão subiu em um dia específico. O resultado é um alívio imediato nos números do aparelho, o que reforça a sensação de que está tudo sob controle — mas nem sempre é assim.
A causa da hipertensão permanece e pode ser grave. A losartana, alerta o cirurgião, pode acabar mascarando problemas como apneia do sono, estenose de artéria renal e feocromocitoma, entre outros. Nesses casos, o remédio corrige o número, mas não trata a origem do problema.
É a lógica invertida do cuidado: normalizar a medida não significa ter a doença sob controle.
Hipertensão não é só número
A Diretriz Brasileira de Hipertensão de 2025 tenta corrigir esse descompasso. O documento reforça que não basta olhar apenas para o valor da pressão; é preciso reduzir o risco cardiovascular global, o que envolve obesidade, diabetes, colesterol, qualidade do sono, estresse e nível de atividade física.
Ao mesmo tempo, a diretriz escancara um problema antigo: a atenção primária não consegue conter a hipertensão antes que ela se agrave. Segundo Katayose, a maior parte dos diagnósticos ainda é feita tardiamente, depois que os sintomas já apareceram.
Na avaliação do médico, falta acompanhamento contínuo, rastreamento regular nas unidades básicas de saúde e tempo para investigar causas como apneia, hábitos alimentares, estresse crônico e sedentarismo. Nesse vazio, a losartana assume um papel que não deveria ser apenas dela.
Professor colaborador da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e líder de cardiologia da Rede Américas, Eduardo Lima reforça essa leitura. Para ele, muitos pacientes só chegam ao sistema de saúde depois que o evento cardiovascular já aconteceu, em um desfecho que poderia ser previsto e prevenido. Quando isso ocorre, o remédio tende a se tornar a única intervenção contínua — embora o problema tenha começado anos antes.
Uso contínuo é seguro quando há qualidade
No uso adequado, a losartana é considerada segura, afirma Katayose. O risco maior não está no tempo de tratamento, mas na qualidade da fabricação. Quando o medicamento vem de laboratórios confiáveis — tanto no SUS quanto na rede privada —, o comprimido pode ser tomado diariamente por anos com bom perfil de segurança.
A conta de risco e benefício é direta: controlar a pressão é sempre mais seguro do que conviver com ela elevada, já que a hipertensão sem controle aumenta o risco de infarto, AVC e insuficiência renal.
A maior apreensão recente de pacientes veio dos recalls de 2018, quando alguns fabricantes tiveram lotes contaminados por nitrosaminas — substâncias que podem surgir por falhas de produção e que, em níveis altos, têm potencial cancerígeno. Como se trata de um remédio de uso contínuo, o episódio ganhou grande repercussão.
Katayose ressalta que o problema não estava na molécula de losartana em si, e sim em processos industriais específicos. Após revisão dos métodos de fabricação e reforço da fiscalização, análises do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) encontraram zero contaminação nos lotes avaliados em 2025.
Confiar só no comprimido é o maior risco
Para Katayose, a principal ameaça não é a losartana, mas a crença de que apenas o comprimido é suficiente. Quando o paciente usa o remédio sem diagnóstico adequado, sem acompanhamento e sem investigar fatores como apneia, estresse crônico ou obesidade, o medicamento pode até baixar os números, mas não enfrenta o motor da doença.
Boa parte desse motor está justamente em fatores que podem ser modificados. Eduardo Lima destaca que mudar o estilo de vida exige constância: não é difícil alterar hábitos por um fim de semana; difícil é manter essas mudanças por 10 ou 20 anos.
As estratégias mais eficazes incluem:
Reduzir o sal — Evitar temperos prontos, embutidos e alimentos industrializados.
Aumentar o consumo de potássio — Frutas, legumes e verduras ajudam a equilibrar o sódio.
Praticar atividade física regularmente — Cerca de 150 minutos por semana podem reduzir a pressão em até 7 mmHg.
Melhorar o sono — Apneia do sono é causa comum de hipertensão resistente.
Controlar o peso (quando há excesso) — Perder entre 5% e 10% do peso corporal melhora os níveis de pressão.
Evitar álcool — A bebida aumenta a pressão e pode reduzir o efeito dos remédios.
Gerenciar o estresse — Pausas ao longo do dia e técnicas simples de respiração auxiliam no controle.
Medir a pressão com regularidade — Acompanhamento frequente ajuda a identificar descompensações precocemente.
Na prática, a losartana segue como um dos pilares do controle da pressão alta no Brasil. Mas, isoladamente, ela não dá conta de um problema que começa muito antes da ida à farmácia. Informações relatadas pelo portal G1.
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