Com início nesta segunda-feira (7), a 21ª edição do Acampamento Terra Livre transformou Brasília em palco da maior mobilização indígena do Brasil.
Foto:Bruno Peres | Agência Brasil Ao longo da semana, cerca de 8 mil indígenas, vindos de mais de 200 povos, devem ocupar a capital federal com reivindicações que vão desde a defesa dos direitos constitucionais até questões ligadas à preservação ambiental e à identidade cultural. As delegações chegam de todas as cinco regiões do país, além de comunidades indígenas internacionais.
Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o encontro tem como tema este ano "Em Defesa da Constituição e da Vida". Os participantes iniciaram sua chegada no domingo (6), e permanecerão mobilizados até a sexta-feira (11).
Entre os principais temas em debate estão os conflitos em terras indígenas, a criação da Comissão Nacional da Verdade Indígena, a resistência LGBTQIA+ dentro das comunidades e a transição energética. Um ponto central é a controvérsia sobre o marco temporal para demarcação de terras, tema que será discutido em sessões previstas no Supremo Tribunal Federal, na terça (8) e quinta-feira (10).
A mobilização busca também sensibilizar autoridades e parlamentares. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha visitado o acampamento nos dois primeiros anos de seu atual mandato, ele não foi convidado em 2024, após críticas à lentidão no processo de demarcação de terras. Neste ano, ainda não há confirmação sobre a presença do presidente, mas os organizadores já enviaram um e-mail ao Palácio do Planalto com as principais reivindicações.
Na última semana, o cacique Raoni, uma das mais respeitadas lideranças indígenas do mundo, dirigiu críticas a Lula durante a visita do presidente à região do Xingu, no Mato Grosso. Apesar de ter sido homenageado pelo petista, Raoni cobrou ações mais firmes contra a destruição ambiental, especialmente em relação à exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas, defendida pelo governo federal.
Durante seu discurso, Raoni destacou os riscos que a exploração representa ao meio ambiente e alertou para possíveis consequências irreversíveis. "Sou pajé e já tive contato com espíritos que sabem do risco que corremos de continuar trabalhando dessa forma de destruir, destruir e destruir", afirmou.
Ele também reconheceu avanços e fez elogios ao presidente, mas foi enfático ao pedir mudanças: “Fiz uma cobrança ao presidente para ele não repetir alguns erros que ele fez na gestão anterior... falei ‘presidente, daqui pra frente vamos trabalhar certo’”.
O Acampamento Terra Livre de 2025 acontece no mesmo ano da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 30, que será sediada em novembro em Belém (PA). A expectativa é que lideranças indígenas tenham papel de destaque nas discussões globais sobre clima e meio ambiente.