Sorotipo 3 da Dengue volta a preocupar Minas Gerais; Governo investe em tecnologias inovadoras

O ressurgimento do sorotipo 3 da dengue em Minas Gerais, após 17 anos, coloca o estado em alerta, especialmente diante da alta suscetibilidade da população ao vírus. Em visita a Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, nessa sexta-feira (10), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, apresentou o Plano de Contingência Nacional contra a Dengue. A estratégia combina novas tecnologias de combate ao mosquito Aedes aegypti com reforço na assistência à saúde, em um esforço para reduzir casos graves e óbitos.

Avanço do Sorotipo 3 em Minas Gerais

Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) mostram que, nos primeiros 10 dias de 2025, o estado já registrou 56 casos do sorotipo 3, um número que equivale a 16% dos 343 casos registrados ao longo de 2024. As cidades com amostras positivas incluem Belo Horizonte, Iturama, São Francisco de Sales e União de Minas, com Iturama concentrando a maioria dos casos.

O secretário de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Rivaldo Venâncio da Cunha, destacou que a situação exige atenção redobrada devido à ampla suscetibilidade da população ao sorotipo 3. Segundo ele, São Paulo, Paraná e Minas Gerais concentram o maior número de casos, e medidas preventivas são essenciais para conter uma possível epidemia.

Tecnologias para conter o avanço da doença

O plano do governo federal aposta em três frentes principais para combater o Aedes aegypti:

1. Mosquitos com Wolbachia: Esses mosquitos são modificados para carregar uma bactéria que impede a reprodução do vírus da dengue, estratégia que já demonstrou eficácia em locais como Niterói (RJ).
2. Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs): Utilizam areia vulcânica para transformar as fêmeas do mosquito em disseminadoras de larvicidas, atacando diretamente os criadouros.
3. Borrifação de Inseticidas: Focada em locais de grande circulação, como escolas e transportes públicos.

Além dessas iniciativas, a ministra reforçou a importância da mobilização da sociedade e do treinamento das equipes de saúde para o diagnóstico e tratamento adequado, especialmente com a hidratação dos pacientes.

Vacinação contra a dengue: desafio de adesão

Apesar da disponibilidade da vacina Qdenga nos postos de saúde, a adesão ainda é baixa. Em Contagem, a campanha focada no público de 10 a 14 anos alcançou apenas 60% de cobertura. Nísia Trindade destacou que o Ministério da Saúde está negociando a ampliação do público-alvo da vacina, mas, no momento, prioriza a distribuição para municípios mais afetados.

Cenário de risco e prevenção

O professor Unaí Tupinambás, da UFMG, alertou que a circulação do sorotipo 3 representa um risco elevado para a saúde pública, devido à baixa imunidade da população. Segundo ele, embora o tipo 3 não circule amplamente no Brasil desde 2008, seu retorno cria condições favoráveis para um aumento de casos. Ele também reforçou a importância das vacinas no controle da doença, embora reconheça a limitação de doses disponíveis.

A SES-MG explicou que o ciclo de predominância dos sorotipos da dengue ocorre de forma cíclica e que a reintrodução do tipo 3 é favorecida pela redução da imunidade populacional após anos de prevalência de outros sorotipos, como o 1 e o 2.