Saúde

Como o cérebro decide o que lembrar e o que esquecer?

Pesquisa inédita com humanos revela que lembranças próximas a eventos emocionais marcantes tornam-se mais resistentes, trazendo perspectivas para tratamentos de memória.

13/11/2025 às 12:51 por Redação Plox

As lembranças de situações cotidianas podem ganhar força quando associadas a experiências surpreendentes, gratificantes ou com grande impacto emocional. Esse é o resultado de uma nova pesquisa publicada na revista Science Advances.

Eventos comuns ganham significado especial quando acontecem imediatamente antes ou depois de um momento emocional, revela pesquisa. Pesquisadores afirmam que essa descoberta pode beneficiar áreas como a medicina e a educação

Eventos comuns ganham significado especial quando acontecem imediatamente antes ou depois de um momento emocional, revela pesquisa. Pesquisadores afirmam que essa descoberta pode beneficiar áreas como a medicina e a educação

Foto: Reprodução: kjpargeter/Freepik

Memórias se tornam mais marcantes após eventos impactantes

De acordo com a investigação, o cérebro tende a resgatar memórias que seriam frágeis ou facilmente esquecidas quando elas guardam semelhança com experiências emocionais fortes. Isso faz com que mesmo fatos aparentemente banais, como o que ocorreu poucos momentos antes de um acontecimento marcante, possam ser lembrados com nitidez inesperada. Como exemplo, se uma pessoa vence em um sorteio, é provável que se recorde de detalhes anteriores ao evento sorteado, mesmo que geralmente passassem despercebidos.

Consolidação seletiva das lembranças

A pesquisa indica que a memória não funciona como um simples gravador. O cérebro seleciona e prioriza acontecimentos, potencializando a recordação de episódios ligados a emoções intensas. Essa capacidade pode possibilitar estabilizar memórias frágeis, tornando-as mais acessíveis no futuro.

A busca por estratégias para fortalecer lembranças úteis ou enfraquecer as prejudiciais já era um objetivo antigo da neurociência cognitiva. No entanto, ainda não havia consenso sobre como as memórias imediatamente anteriores ou posteriores a acontecimentos marcantes eram priorizadas pelo cérebro.

O estudo é considerado o primeiro a testar em humanos o conceito de "priorização gradual" na organização das lembranças: quanto maior a semelhança de uma memória cotidiana com um evento emocional, maior a probabilidade de sua fixação.

Como o experimento foi conduzido

A equipe realizou dez experimentos envolvendo 650 participantes. Cada pessoa foi exposta a dezenas de imagens e, no dia seguinte, foi submetida a testes surpresa de memória. Os pesquisadores também analisaram um grande conjunto de dados com auxílio de inteligência artificial.

Os resultados apontaram que as lembranças formadas após eventos marcantes — chamadas lembranças proativas — tornam-se mais resistentes quanto maior for o impacto emocional. No caso das memórias de momentos que antecederam o evento, conhecidas como lembranças retroativas, sua fixação dependia do grau de conexão ou semelhança com o acontecimento significativo posterior.

Possíveis aplicações práticas

As descobertas podem abrir caminhos para o desenvolvimento de tratamentos voltados a pacientes com dificuldades de memória. A recuperação de lembranças enfraquecidas pelo envelhecimento ou mesmo a possibilidade de evitar a ativação de memórias traumáticas estão entre os potenciais benefícios.

Já na área da educação, materiais emocionalmente envolventes podem contribuir para que alunos memorizem conteúdos complexos ou de difícil fixação, segundo os resultados do estudo.

Compartilhar a notícia

V e j a A g o r a