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Saúde
Ameaça invisível: Superbactérias crescem em hospitais brasileiros
As carbapenemases, grupo maior ao qual a NDM-1 pertence, produzidas por bactérias, representam hoje uma ameaça global devido aos altos níveis de resistência aos antibióticos atuais.
17/07/2023 às 10:05por Redação Plox
17/07/2023 às 10:05
— por Redação Plox
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A presença de uma nova geração de bactérias multirresistentes nos hospitais brasileiros tem sido motivo de preocupação para as autoridades de saúde. Pela primeira vez, um estudo nacional constatou um aumento significativo de uma enzima ligada a essas bactérias, chamada metalobetalactamase New Delhi (NDM-1). Este é um fato preocupante para as comissões de controle de infecção hospitalar.
Foto: Pixabay/Divulgação
A NDM-1, isolada pela primeira vez na Índia em 2009, já causou surtos na Índia, Paquistão e Inglaterra. Outros países como Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos também viram um crescimento nos casos.
No Brasil, a NDM-1 já havia sido detectada anteriormente, mas nunca mensurada. O estudo revelou que, entre 2015 e 2022, a taxa de detecção dessa enzima em um grupo de bactérias, as enterobactérias, aumentou quase seis vezes, saltando de 4,2% para 23,8%. Interessante notar que este aumento coincide com o pico da pandemia de Covid-19.
O estudo brasileiro e suas descobertas
As carbapenemases, grupo maior ao qual a NDM-1 pertence, produzidas por bactérias, representam hoje uma ameaça global devido aos altos níveis de resistência aos antibióticos atuais. Uma das mais conhecidas é a KPC, Klebsiella pneumoniae, que já causou vários surtos em hospitais brasileiros e internacionais.
Os pesquisadores especulam que o aumento da presença de bactérias multirresistentes pode estar relacionado a hospitais superlotados, profissionais da saúde despreparados e ao uso indiscriminado de antibióticos. Os dados do estudo apontam que, entre 2020 e 2022, houve um aumento de 65,2% na detecção de enterobactérias e de 61,3% na Pseudomonas aeruginosa nas amostras isoladas.
Carlos Kiffer, autor principal do estudo e professor adjunto de infectologia da Unifesp, revelou: "A gente sabia que estava detectando mais NDM, mas não tinha quantificado isso". Segundo o professor, se a NDM mantiver essa taxa de crescimento elevado, ela pode tomar conta dos ambientes hospitalares nos próximos três a quatro anos.
A realidade é que, diferentemente da KPC, que pode ser combatida com novos antibióticos mais eficazes, a NDM ainda não dispõe dessa alternativa. "Aqui no Brasil não tem nenhum [antibiótico] comprovadamente eficaz para a NDM. O que gente faz é usar antibióticos antigos, alguns podem ou não ter efeito para essa resistência, mas a gente não pode garantir que funcione", lamenta Kiffer.
O especialista acrescenta que é crucial aprimorar a infraestrutura hospitalar e investir em diagnóstico precoce e na educação dos profissionais da saúde, visando à prevenção da disseminação da resistência bacteriana. "É uma epidemia silenciosa deste século. Se a gente não fizer algo agora, vai sofrer num futuro muito próximo com a restrição de opções terapêuticas, a um custo muito elevado, e, em muitos casos, lidar com infecções intratáveis, o que já é uma realidade em muitos hospitais", alerta Kiffer.