Walter Delgatti admite influência integral em relatório militar sobre urnas eletrônica

O hacker conhecido como Walter Delgatti Netto recentemente veio a público, durante um depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os acontecimentos de 8 de janeiro, declarando sua influência na confecção do relatório sobre a segurança das urnas eletrônicas, apresentado pelas Forças Armadas em 9 de novembro de 2022. "Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais”, afirmou Delgatti.

 Envolvimento do ex-presidente Bolsonaro Conforme o depoimento de Delgatti, sua contribuição ao relatório não foi um mero acaso ou uma iniciativa autônoma. Ele esclareceu que foi convidado para um encontro com o então presidente Jair Bolsonaro, que ocorreu no Palácio da Alvorada em 10 de agosto de 2022, durando aproximadamente uma hora e meia. Nessa ocasião, segundo ele, Bolsonaro teria ordenado sua colaboração com os militares no projeto. Essa diretriz presidencial teria gerado certo desconforto, principalmente por parte do coronel Marcelo Câmara, presente na reunião. Câmara teria demonstrado resistência ao pedido, mas foi firmemente repreendido pelo ex-presidente: "Não, isso é uma ordem minha. Cumpra”, relatou Delgatti.

 Oferta de Indulto Delgatti também abordou a questão do indulto, que supostamente lhe foi oferecido por Bolsonaro em troca de sua colaboração. Naquele período, o hacker estava sob medidas cautelares relacionadas à Operação Spoofing, que investigou a invasão de dispositivos móveis pertencentes a procuradores envolvidos na Operação Lava Jato.

 Interações no Ministério da Defesa Para além das revelações sobre Bolsonaro, Delgatti também detalhou suas visitas ao Ministério da Defesa. Ele mencionou ter estado no local em cinco ocasiões distintas, sempre acessando o edifício pela entrada dos fundos. Em suas visitas, teve reuniões com o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa, e outros profissionais ligados à Tecnologia da Informação do ministério.

 Troca de Informações sobre Urnas Uma vez que o exame direto do código-fonte das urnas eletrônicas só é permitido nas instalações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Delgatti explicou que técnicos do Ministério da Defesa coletavam dados no tribunal e depois lhe repassavam. Por restrições de acesso à internet, estes técnicos se viam obrigados a memorizar segmentos do código para posteriormente compartilhar com Delgatti.

A equipe de reportagem buscou um posicionamento oficial do Ministério da Defesa, assim como declarações do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Ambos os contatos estão pendentes de retorno.