Política

Fraude no INSS: CPMI investiga deputados e sindicatos mineiros por esquema bilionário

Comissões apontam 27 parlamentares e sindicatos de Minas em investigação sobre descontos indevidos em aposentadorias; prejuízo chega a R$ 3,3 bilhões

17/11/2025 às 07:55 por Redação Plox

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no INSS ampliou a lista de investigados e agora mira mais dois deputados federais de Minas Gerais suspeitos de envolvimento em movimentações financeiras irregulares. A confirmação partiu do presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), em entrevista ao Estado de Minas.

O senador Carlos Viana, presidente da CPMI do INSS, declara que o suporte político manteve um esquema que perdurou por três administrações e envolveu parlamentares de 17 estados

O senador Carlos Viana, presidente da CPMI do INSS, declara que o suporte político manteve um esquema que perdurou por três administrações e envolveu parlamentares de 17 estados

Foto: Reprodução


Deputados mineiros sob investigação

Os nomes dos novos investigados mineiros não foram divulgados devido ao sigilo solicitado pelas autoridades. De acordo com o senador, a restrição serve para proteger o andamento das investigações até que a extensão das responsabilidades seja esclarecida. Foi identificado, porém, que houve movimentação de recursos nas contas desses parlamentares provenientes de entidades já investigadas pela CPMI e pela Polícia Federal.

Em relação aos três parlamentares mineiros citados na investigação, apenas um já teve o nome exposto após ser alvo de operação da PF. Sobre os demais, Carlos Viana afirmou que ainda é preciso delimitar a participação de cada um no esquema, para saber se houve envolvimento direto nas irregularidades ou se atuaram em atividades paralelas.

Esquema envolveu parlamentares em todo o país

No total, 27 parlamentares de diferentes regiões do Brasil surgem nas investigações: são três senadores e 24 deputados federais, distribuídos por 17 estados. As quebras de sigilo mostram que todos os citados mantêm algum tipo de ligação com entidades envolvidas nos desvios registrados no INSS. Porém, o foro privilegiado dos parlamentares impõe limitações legais ao trabalho da comissão—uma questão que está sob análise da advocacia do Senado.

Apoio político manteve fraude em funcionamento

As irregularidades começaram ainda no governo Michel Temer (2016–2018), atravessaram o período Bolsonaro (2019–2022) e permanecem sendo apuradas na atual gestão. Conforme as investigações, entidades sindicais e associações descontavam mensalidades de aposentadorias e pensões sem a anuência dos beneficiários.

O senador Carlos Viana destacou que o apoio político foi fundamental para a continuidade do esquema, já que ocupantes de cargos estratégicos no INSS tiveram nomeações políticas que atravessaram diferentes governos. Essa proteção teria permitido que o grupo de servidores envolvidos permanecesse ativo ao longo dos anos.

Etapas das investigações e próximos passos

A CPMI iniciou os trabalhos em agosto e dividiu a investigação em duas fases: a primeira concentrou-se nos descontos associativos irregulares e já está próxima de ser concluída; a segunda, a ser iniciada, deve apurar a concessão de empréstimos consignados fraudulentos.

A comissão já homologou uma colaboração premiada e negocia novo acordo de delação para fortalecer as apurações. A próxima meta é analisar o papel dos bancos responsáveis pelos pagamentos aos beneficiários do INSS, etapa prevista para começar em fevereiro de 2026. O prazo oficial para encerramento da CPMI é março de 2026, mas a comissão poderá ser prorrogada.

Atuação nacional do esquema

O núcleo do esquema operava a partir de Brasília, mas expandiu sua ação a vários estados, principalmente após ganhar proteção política. A estrutura envolvia federações e sindicatos ligados a organizações nacionais. Em Minas Gerais, documentos e ações judiciais apontaram a participação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaemg) e de seus sindicatos associados. Os descontos, geralmente em torno de 2% do benefício mensal, eram feitos sem aviso aos aposentados, como denúncia já publicada pelo Estado de Minas.

Pressão e resultados

O escândalo provocou uma reação do Governo Federal, que iniciou o ressarcimento aos aposentados em julho. Cerca de 2,5 milhões de beneficiários aderiram ao acordo, destinando um total de R$3,3 bilhões para os pagamentos. A CPMI também aprovou um projeto que proíbe descontos associativos diretos nos benefícios do INSS—uma mudança que, de acordo com o senador, deve garantir mais tranquilidade aos aposentados.

Para a comissão, a exposição pública do caso foi fundamental para acelerar as devoluções e avançar no combate às fraudes.

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