Epidemia silenciosa: uso de drogas cresce entre idosos, alerta USP

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) acendem o sinal de alerta diante do aumento no uso de álcool, cannabis e medicamentos entre idosos. Uma carta publicada na seção Cartas ao Editor do World Journal of Psychiatry destaca que esse fenômeno foi identificado pelo Painel Internacional de Controle de Narcóticos como uma “epidemia silenciosa” que desafia políticas públicas e o sistema de saúde.

Preocupação com o crescimento do consumo

No documento, os pesquisadores Kae Leopoldo, psicólogo vinculado ao Instituto de Psicologia da USP e ao Hospital das Clínicas, e João Maurício Castaldelli Maia, psiquiatra também da USP, defendem a necessidade de fortalecer estratégias de prevenção entre pessoas acima de 60 anos. O grupo ressalta a importância da chamada “literacia em dependência química”, conceito que envolve compreender riscos e tomar decisões seguras sobre substâncias psicoativas.

Impactos físicos e mentais na terceira idade

O artigo destaca os resultados de uma revisão bibliográfica internacional sobre dependência química em idosos. O levantamento analisou não só os impactos físicos e mentais do uso de drogas, mas também o papel da informação em saúde e o aumento expressivo no consumo de substâncias nessa faixa etária.

Os idosos são um grupo de risco para diversos problemas de saúde, e o aumento do consumo de drogas nessa faixa etária já é considerado uma epidemia mundial. – Kae Leopoldo, em entrevista à USP

Isolamento e vulnerabilidade emocional

Entre os estudos avaliados, um trabalho conduzido por pesquisadores da Universidade de Huzhou, na China, identificou relação entre isolamento social e sofrimento psicológico entre pessoas mais velhas. O estudo com 254 participantes apontou que a falta de informações em saúde aumenta a vulnerabilidade emocional, favorecendo a incidência do uso de substâncias.

Atenção para a cannabis e efeitos colaterais

A revisão também detalha o crescimento no consumo de cannabis entre idosos, tema de análise em 134 pesquisas realizadas por um grupo canadense. Com a legalização em alguns países, o acesso à cannabis cresceu, mas os autores reforçam que seus benefícios terapêuticos ainda são incertos.

Embora a substância seja utilizada para aliviar sintomas como dor e insônia, pode agravar quadros de saúde, especialmente se combinada a outros medicamentos.

Consequências para a saúde e propostas

Os efeitos adversos verificados incluem depressão, ansiedade, prejuízos cognitivos, ocorrência de acidentes e aumento na busca por atendimento médico. O grupo da USP observa que a falta de informação adequada expõe idosos a ainda mais riscos.

Como resposta, o artigo sugere campanhas educativas em centros comunitários e unidades de saúde, além de ações digitais específicas para a terceira idade. É recomendado abordar o uso seguro de medicamentos, os riscos da combinação de substâncias e a importância da abstinência quando indicado, estimulando ambientes de diálogo sem estigmatização.

Fortalecer a literacia em dependência química pode ajudar os idosos a buscar apoio adequado e tomar decisões mais seguras sobre o uso de substâncias. – Kae Leopoldo