Educação

“Trabalho desde os 15”: os motivos que fazem 1 em cada 4 jovens abandonar o Ensino Médio

Desigualdades sociais e regionais seguem dificultando a permanência dos jovens nas escolas; iniciativas como ensino integral e incentivo financeiro buscam reverter quadro

18/11/2025 às 07:25 por Redação Plox

A evasão escolar no Ensino Médio brasileiro segue sendo um desafio para milhares de jovens, e histórias como a de Agatha Barroso Nunes, de 19 anos, ilustram as dificuldades enfrentadas. Mudanças de cidade, dificuldades de adaptação e o impacto de fatores como ansiedade e depressão levaram Agatha a abandonar os estudos no segundo ano. Sua trajetória se junta à de muitos outros jovens do país que ainda não completaram essa etapa escolar.

Embora tenha havido progresso, a taxa de conclusão do Ensino Médio até os 19 anos permanece em 74%. Além disso, persiste uma grande disparidade entre ricos e pobres na fase final da educação básica

Embora tenha havido progresso, a taxa de conclusão do Ensino Médio até os 19 anos permanece em 74%.

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Avanço na taxa de conclusão, mas com desafios persistentes

O Brasil tem visto avanços consideráveis na taxa de conclusão do Ensino Médio nos últimos anos. Dados do instituto Todos Pela Educação, com base na Pnad Contínua e seu Módulo Educação do IBGE, mostram que a taxa subiu de 54,5% em 2015 para 74,3% em 2025. Mesmo assim, o índice de conclusão entre os jovens até 19 anos permanece abaixo do Ensino Fundamental, que saltou de 74,7% para 88,6% no período.

Esse levantamento, divulgado recentemente, reforça a importância do tema diante das discussões sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) 2025-2035, instrumento que norteará metas para os próximos anos.

Motivos para evasão vão além do ambiente escolar

O Ensino Médio tornou-se obrigatório apenas após emenda constitucional de 2009, implementada gradualmente até 2016. Como é a última etapa da educação básica, muitos estudantes chegam com defasagens, seja por reprovações ou pelo ingresso tardio. Esse atraso escolar, combinado a fatores socioeconômicos e familiares, influencia o abandono, especialmente entre os mais vulneráveis.

Segundo especialistas, como Claudia Costin e Manoela Miranda, a escolaridade dos pais tem impacto direto: quanto menor o nível de instrução, maiores são as chances de evasão por parte dos filhos. Estudos mostram que até 68% do sucesso escolar de uma criança depende da escolaridade da mãe.

Diferenças econômicas e de gênero ampliam a desigualdade

O levantamento evidencia um profundo abismo entre ricos e pobres em relação à conclusão do Ensino Médio. Entre os 20% mais ricos, a taxa saltou de 85,2% para 94,2% em dez anos; entre os 20% mais pobres, foi de 36,1% para 60,4% no mesmo período. Apesar da redução da diferença, que caiu de 49,1 para 33,8 pontos percentuais, a desigualdade permanece marcante.

A pesquisa aponta ainda que, se nada mudar, essa disparidade pode levar mais de duas décadas para ser superada. Pobres precisam muitas vezes interromper os estudos para trabalhar ou por falta de interesse, enquanto o atraso escolar também pesa muito mais entre eles.

Por outro lado, entre as mulheres, a taxa de conclusão avança de forma mais expressiva: passou de 60,4% para 78,5%, ante 48,6% a 70,2% dos homens, reflexo das diferenças de expectativa social e obrigações familiares. Enquanto meninos abandonam a escola principalmente para trabalhar, meninas enfrentam desafios como gravidez precoce e acúmulo de tarefas domésticas.

Desigualdade racial e regional ainda desafia o acesso

Além das diferenças econômicas, há disparidades importantes entre grupos raciais. Enquanto brancos e amarelos atingem 81,7% de conclusão, pretos, pardos e indígenas chegam a 69,5%. O ritmo de redução dessa diferença indica que a equiparação só ocorreria em 2041, caso as tendências atuais sejam mantidas.

Os avanços variam também conforme a região do país. Nordeste e Norte tiveram crescimento expressivo nas taxas de conclusão, chegando respectivamente a 84,8% e 82,5% em 2025, mas ainda ficam atrás das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Iniciativas locais, como o ensino integral e centros de mídias, têm papel relevante nessa melhora.

Medidas para reduzir a evasão e melhorar o ensino

Especialistas defendem o fortalecimento do ensino de tempo integral como estratégia fundamental para reverter a evasão. A modalidade, porém, ainda representa uma parcela minoritária das matrículas no país. Ampliar o tempo de permanência dos estudantes na escola pode ser decisivo para recuperar conteúdos e assegurar uma trajetória escolar contínua.

Outra aposta importante é o incentivo financeiro. O Programa Pé de Meia, lançado em 2024, concede auxílio mensal para alunos do Ensino Médio, além de bônus anual mediante conclusão e participação no Enem. Segundo dados do governo federal, o programa já beneficiava cerca de 3,95 milhões de estudantes ao fim de 2024, correspondendo a mais de metade das matrículas registradas.

O Novo Ensino Médio, que se tornará obrigatório em 2026, também deve contribuir para aumentar o interesse dos jovens, ao ofertar itinerários formativos que permitem escolhas alinhadas aos interesses profissionais e pessoais dos estudantes.

Encceja abre novas oportunidades a quem abandonou a escola

Para jovens como Agatha e Henry, o abandono não representou o fim da trajetória escolar. Ambos recorreram ao Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) para concluir o ensino médio fora do tempo regular.

Agatha aguarda o resultado da prova. Já Henry, após ser aprovado, ingressou no ensino superior e destaca como a educação transformou sua vida: agora ele pode conquistar empregos melhores e ter uma vida com mais possibilidades.

O acesso à educação de qualidade e a políticas públicas voltadas à permanência escolar são fundamentais para impulsionar mudanças reais no cenário brasileiro.
Informações relatadas pelo portal G1.

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