Juiz detém mãe durante audiência após expressão contra acusado de matar seu filho

Na 12ª Vara Criminal de Cuiabá, o juiz Wladymir Perri deu voz de prisão à mãe de um jovem, vítima fatal de tiroteio em 2016, após ela manifestar-se contra o acusado durante uma audiência de instrução, realizada no final de setembro. O episódio ganhou visibilidade somente depois que partes da audiência foram disseminadas nas redes sociais.

O magistrado, em esclarecimento por meio de sua assessoria jurídica, destacou que os acontecimentos estão sob apuração, tendo ele mesmo enviado imagens da audiência à Corregedoria-Geral de Justiça do Mato Grosso e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Contudo, o CNJ declarou que nada sobre o caso está em tramitação em seus registros.

Investigação em Andamento

A Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso confirmou a instauração de uma sindicância para avaliar a conduta do juiz. O inquérito tem duração estimada de 140 dias e ocorre em caráter confidencial.

Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, promotora responsável pelo caso, descreveu que a controvérsia teve início quando questionaram a mãe se sentia à vontade para testemunhar na presença do réu. A resposta dela foi interrompida pelo advogado do réu e, posteriormente, pelo próprio juiz, culminando no encerramento abrupto da audiência.

Detalhes Pós-Audiência

Depois do fim da audiência, a mãe do jovem assassinado atirou um copo de plástico que estava em sua mão. Conforme relatado pela promotora, a mulher dirigiu-se ao réu, afirmando: "da justiça dos homens você escapou, mas da justiça Deus não escapa". Foi neste instante que ela foi detida.

A promotora questiona as alegações da ata da audiência sobre o dano ao patrimônio público e observa inconsistências nas informações, como a afirmação de que a mulher teria ofendido o juiz, algo não comprovado.

Após o ocorrido, a mulher permaneceu retida no fórum por mais quatro horas e foi posteriormente encaminhada para prestar depoimento na delegacia. O delegado, contudo, optou por não registrar a detenção por falta de evidências concretas.

Suporte Psicológico às Vítimas

Giovana Bárbara Neves Lourenço, psicóloga, esclareceu sobre o Núcleo de Defesa da Vida, entidade em Mato Grosso voltada para o atendimento de familiares e sobreviventes de crimes violentos. Através deste núcleo, as vítimas recebem orientações sobre seus direitos e são amparadas psicologicamente, evitando situações de retraumatização.