Saúde

Estudo francês indica que estímulos ambientais ajudam a atrasar sintomas de Alzheimer

Pesquisa francesa mostra que estímulos sociais reativam neurônios e recuperam memória em camundongos com Alzheimer, sugerindo novos caminhos para prevenção.

19/11/2025 às 09:31 por Redação Plox

Uma pesquisa conduzida pela equipe da neurocientista francesa Laure Verret identificou que as interações sociais conseguem reativar neurônios em camundongos acometidos por Alzheimer. O contato social mostrou ainda um efeito positivo na preservação da memória e na normalização do comportamento dos animais.

Ambientes estimulantes afetam mecanismos cerebrais

O estudo, realizado no Centro de Pesquisas sobre a Cognição Animal da Universidade de Toulouse, detalhou como doenças neurodegenerativas afetam o cérebro e como estímulos ambientais podem reverter parte desses efeitos. Segundo Laure Verret, o papel do ambiente na perda cognitiva vem sendo investigado há décadas e serve de base para novas linhas de pesquisa.

O estímulo cognitivo, social e sensorial esconde as deficiências de memória desses animais. Eles estão doentes, têm problemas cerebrais, mas, apesar disso, não demonstram problemas comportamentais. Sempre tive em mente uma questão que, para mim, é fundamental: entender o que acontece dentro da cabeça dos camundongos quando estão nesse ambiente rico em interações, e como isso ajuda a combater as doenças neurodegenerativas e a manter a capacidade cerebral.

Laure Verret

Verret explica que pessoas curiosas, ativas fisicamente e com vida social intensa tendem a apresentar sintomas de Alzheimer mais tardiamente, mesmo tendo diagnóstico confirmado. Esses achados reforçam que o cérebro é capaz de retardar os sinais da doença.

Socialização restaura funções cerebrais

Essa capacidade é chamada de reserva cognitiva. Este é um conceito dos anos 1980, que também é observado nos camundongos. Em nosso estudo buscamos detectar as modificações no cérebro dos animais que melhoravam seu comportamento, após serem expostos a estímulos. Talvez esses mecanismos sejam idênticos nos humanos que tenham uma vida estimulante o suficiente para prevenir as disfunções cognitivas, relacionadas às doenças neurodegenerativas, como Alzheimer

Laure Verret

A experiência usou cerca de 12 camundongos com déficits cognitivos iniciais. Isoladamente, eles não apresentavam contato prévio uns com os outros. Durante dez dias, os animais ficaram juntos numa gaiola com diferentes objetos, que eram substituídos de tempos em tempos. Em seguida, voltaram a seus espaços separados por 20 dias.

Os pesquisadores queriam descobrir por quanto tempo durariam os benefícios dessas interações. A observação revelou que os déficits cognitivos haviam desaparecido comparados a outros camundongos que não participaram das experiências.

Após o experimento, os animais foram capazes de reconhecer seus parceiros, indicando uma possível restauração do hipocampo — estrutura fundamental para a memória e uma das mais afetadas pelo Alzheimer.

Intervenções sem uso de medicamentos

Com os resultados, surgiram novas perguntas sobre o que, de fato, havia mudado no cérebro dos camundongos. O foco dos cientistas foram os neurônios PV (parvalbumina) do hipocampo, descritos por Verret como “maestros” do cérebro por regularem a atividade neural. Danos a esses neurônios, comuns em quadros de Alzheimer, comprometem o equilíbrio cerebral geral.

Os pesquisadores testaram a hipótese de que restaurar a função desses neurônios melhoraria a memória dos animais. Segundo Verret, o bom funcionamento dessas células depende também das redes perineuronais, moléculas que protegem as conexões entre os neurônios.

Para investigar a relação de causa e efeito, os cientistas injetaram uma molécula em parte do hipocampo dos camundongos, bloqueando a formação das redes perineuronais durante a fase de estímulo ambiental. A memória se mostrou preservada apenas nas áreas cerebrais não afetadas pela molécula.

Para nós, ficou demonstrado que há uma relação de causalidade entre a modificação dos neurônios e a melhora do comportamento

Laure Verret

Outro teste utilizou uma proteína chamada neuregulina no hipocampo dos camundongos, molécula produzida naturalmente pelo cérebro. O uso restaurou a atividade neuronal e a memória na região afetada pelo Alzheimer.

Estímulos ambientais podem atrasar o declínio

O estudo reforça que o estilo de vida exerce papel fundamental para retardar o declínio cognitivo associado ao Alzheimer. Os resultados abrem caminho para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas que promovam a socialização, inclusive para pessoas idosas com ou sem diagnóstico da doença.

A grande novidade é que esse neurônio pode ser um alvo terapêutico, mesmo sem medicamentos, apenas com estímulos ambientais, sensoriais e sociais

Laure Verret

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