O Ministério da Educação (MEC) acionou a Polícia Federal diante da anulação de três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, ainda não divulgadas, para apurar possível quebra de sigilo na fase de pré-testagem do exame. O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em entrevista à TV Verdes Mares, do Ceará, após suspeitas de divulgação indevida de conteúdo.

Suspeitas e investigações em torno do Enem

Dias antes do segundo domingo de provas, uma live no YouTube apresentou possíveis questões que poderiam ser cobradas no Enem. Pelo menos cinco dessas perguntas eram muito semelhantes às que apareceram oficialmente no exame.

A transmissão foi feita por Edcley Teixeira, que se apresenta como estudante de medicina e “mentor” de candidatos ao Enem. Para prever as questões, Edcley usou, entre outros recursos, a memorização de temas do Prêmio CAPES Talento Universitário, uma avaliação aplicada a estudantes do primeiro ano do ensino superior.

Ele alegou ter identificado que diversas perguntas do Prêmio CAPES seriam usadas como pré-teste para o Enem, informação até então não divulgada oficialmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Após a análise do caso, o Ministério da Educação decidiu cancelar três questões e pediu investigação sobre potencial quebra de sigilo ou má-fé na divulgação do conteúdo.

Confidencialidade dos pré-testes em debate

O questionamento sobre a existência de termos de confidencialidade para participantes dos pré-testes foi direcionado ao ministro da Educação. Ele declarou que os estudantes não têm conhecimento de que estão respondendo a questões pré-testadas do Enem.

Já Edcley afirmou em uma rede social que não houve exigência de compromisso de sigilo quando participou do Prêmio CAPES:

Você não assina nada. É um prêmio completamente normal — Edcley Teixeira, Instagram

Posicionamento oficial do Inep e investigação

Em comunicado, o Inep garantiu que todos os protocolos de segurança foram seguidos nas etapas do Enem 2025, e destacou que houve apenas “similaridades pontuais entre os itens”, sem qualquer questão idêntica entre as apresentadas na transmissão e as aplicadas no Enem.

A autarquia também ressaltou que a investigação da Polícia Federal irá apurar condutas e identificar responsáveis por eventual quebra de confidencialidade ou divulgação indevida de questões sigilosas.

Etapas de criação das questões do Enem

O Enem é composto por questões extraídas do Banco Nacional de Itens (BNI), que reúne milhares de perguntas elaboradas por educadores e pesquisadores cadastrados através de chamada pública.

Segundo o Inep, o processo para alimentar o BNI envolve três principais etapas:

• Elaboração dos itens, feita por colaboradores credenciados;
• Validação pedagógica por especialistas, avaliando alinhamento com a matriz curricular;
• Pré-testagem, com aplicação a grupos semelhantes ao público do Enem.

Como funciona a pré-testagem das questões

A pré-testagem é fundamental para avaliar a propriedade e o grau de dificuldade de cada questão. O Inep aplica esses testes a grupos similares aos dos candidatos ao Enem e avalia desempenho adequado, possibilidade de reformulação ou descarte das perguntas.

Sobre esse processo, o Inep orienta que a análise dos itens visa aprimorar a qualidade das questões selecionadas e a precisão das informações extraídas da prova. Uma bateria de análises estatísticas e pedagógicas é utilizada para aferir dificuldade, discriminação e probabilidade de acerto ao acaso.

Diferente das alegações feitas por Edcley, não há confirmação oficial de que as questões do Prêmio CAPES Talento Universitário sejam utilizadas como pré-teste do BNI.

Como a prova final do Enem é montada

Apenas as questões validadas e pré-testadas podem integrar o BNI e, posteriormente, compor o Enem. Perguntas que não atingem os critérios são reformuladas ou eliminadas do banco.

A composição das 180 questões do exame leva em conta:

• Índices psicométricos mensurados no pré-teste;
• Conteúdos e habilidades constantes da matriz do Enem;
• Equilíbrio entre diferentes áreas e temas.

O exame utiliza a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para todas as etapas de correção e pontuação, tornando possível garantir maior comparabilidade entre edições, já que considera o acerto de questões conforme seu grau de dificuldade e perfil estatístico.

O Inep salienta que

O Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados. A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição — Inep, nota oficial

A polêmica sobre as previsões de Edcley

Edcley explica que, além de memorizar questões do Prêmio CAPES, procurou identificar membros do Banco de Colaboradores, estudando autores de artigos científicos relacionados à elaboração das questões do Enem.

Ele afirma ter desenvolvido um “algoritmo” que reconheceria padrões de composição das perguntas do exame e sustenta que seu método seria legal, com o objetivo de democratizar o acesso à prova. Contudo, não há confirmação das conexões sugeridas pelo mentor.