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Saúde
Até consumo moderado de álcool eleva risco de vários tipos de câncer, aponta estudos
Análise de 62 estudos com até 100 milhões de participantes liga ingestão de álcool, mesmo moderada, a maior risco de câncer de mama, colorretal, fígado, cavidade oral, laringe, esôfago e estômago, com impacto maior em grupos vulneráveis
19/12/2025 às 07:55por Redação Plox
19/12/2025 às 07:55
— por Redação Plox
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Um copo “só para brindar” pode parecer inofensivo, mas uma revisão liderada por pesquisadores da Florida Atlantic University (FAU) reforça que até o consumo moderado de álcool está associado a um risco maior de vários tipos de câncer. Nessa equação, tanto a quantidade quanto a frequência com que se bebe fazem diferença.
O trabalho, conduzido por cientistas da Charles E. Schmidt College of Medicine, analisou 62 estudos com amostras que variaram de 80 a quase 100 milhões de participantes. As associações mais consistentes apareceram para cânceres de mama, colorretal, fígado e cavidade oral, além de tumores de laringe, esôfago e estômago.
Consumo de álcool é associado ao maior risco de desenvolver câncer
Foto: Shutterstock/Reprodução
Risco aumenta conforme o consumo cresce
A revisão, publicada na revista científica Cancer Epidemiology, indica que não é apenas o volume total ingerido que importa. Beber com mais frequência também aparece ligado a um risco maior em diferentes desfechos oncológicos.
Segundo os autores, um dos recados centrais é a existência de um padrão de risco que cresce à medida que o consumo sobe. A pesquisadora Lea Sacca, da FAU, resume as conclusões com base em 50 dos estudos analisados, que mostraram aumento consistente no risco de câncer entre pessoas que bebem mais, levando em conta questões como tipo de bebida, idade da primeira exposição, gênero, raça, tabagismo, histórico familiar e genética, além de grupos considerados especialmente vulneráveis, como idosos, pessoas em situação socioeconômica desfavorável e indivíduos com comorbidades. O consumo pesado, diário ou episódico excessivo, aparece fortemente associado a múltiplos tipos de câncer, reforçando a importância da moderação e do seguimento de diretrizes de prevenção.
Como o álcool pode favorecer o câncer
Os autores reúnem mecanismos biológicos já descritos na literatura científica para explicar por que o álcool pode aumentar o risco de tumores. Entre eles, estão o dano ao DNA provocado pelo acetaldeído (substância produzida na quebra do álcool pelo organismo), alterações hormonais, estresse oxidativo, supressão do sistema imunológico e maior absorção de agentes carcinogênicos.
Do ponto de vista biológico, o álcool pode danificar o DNA por meio do acetaldeído, alterar os níveis hormonais, desencadear estresse oxidativo, suprimir o sistema imunológico e aumentar a absorção de agentes carcinogênicos. Esses efeitos são potencializados por condições de saúde pré-existentes, escolhas de estilo de vida e predisposições genéticas, fatores que podem acelerar o desenvolvimento do câncer.
Lewis S. Nelson
Esses efeitos, destacam os pesquisadores, não atuam de forma isolada: são influenciados por doenças pré-existentes, escolhas de estilo de vida e predisposições genéticas, compondo um cenário que pode acelerar o desenvolvimento de tumores em algumas pessoas.
Grupos mais vulneráveis ao mesmo nível de consumo
A revisão aponta que o risco associado ao álcool não é uniforme para todos. Mesmo com quantidades semelhantes de consumo, alguns grupos aparecem como mais vulneráveis.
Entre eles, estão idosos, pessoas com obesidade ou diabetes e populações em desvantagem socioeconômica. Em parte dos estudos avaliados, também surgem diferenças por raça e etnia.
Outro ponto destacado é o papel de fatores que potencializam o efeito do álcool. O tabagismo, por exemplo, pode amplificar o risco de câncer associado à bebida, com variações conforme o sexo e o padrão de consumo. A literatura analisada inclui ainda elementos como nível de atividade física, dieta e presença de algumas infecções, que ajudam a moldar o risco individual.
Tipo de bebida e diferenças entre homens e mulheres
Em alguns dos estudos incluídos na revisão, o tipo de bebida alcoólica aparece relacionado a diferenças no risco para determinados cânceres. Há trabalhos em que cerveja ou vinho branco foram associados a maior risco em certos desfechos, enquanto destilados não mostraram o mesmo padrão em algumas análises.
Os autores, porém, tratam esse ponto com cautela, ressaltando que esses achados não significam que determinado tipo de bebida seja “seguro”, mas que a relação entre padrão de consumo, tipo de álcool e risco oncológico é complexa e ainda em investigação.
A revisão também registra diferenças entre homens e mulheres. Em parte dos estudos, beber com frequência se associou a maior risco de câncer em homens, enquanto episódios de consumo pesado episódico estiveram ligados a maior risco em mulheres.
O que a revisão fez e onde estão os limites
Os pesquisadores da Florida Atlantic University, no Charles E. Schmidt College of Medicine, realizaram uma revisão sistemática de 62 estudos que investigaram a relação entre consumo de álcool e risco de câncer em adultos nos Estados Unidos, cobrindo amostras de 80 a quase 100 milhões de participantes.
Entre os pontos fortes do trabalho está a reunião de um grande volume de evidências, permitindo comparar diferentes padrões de consumo — em quantidade e frequência — e discutir o impacto em subgrupos específicos e em pessoas com comorbidades.
Por outro lado, grande parte das evidências vem de estudos observacionais, geralmente baseados em relatos das próprias pessoas sobre quanto e com que frequência bebem. Isso dificulta isolar totalmente o efeito do álcool de outros fatores associados, como tabagismo, dieta e condições de saúde, e impede afirmar causa e efeito com o mesmo grau de certeza de um ensaio clínico.
Como usar essa informação na vida real
A revisão reforça a ideia de que “moderação” não funciona como blindagem automática contra o risco. Em algumas pessoas, o conjunto de fatores individuais — como histórico de saúde, hábitos e contexto social — pode tornar o impacto do álcool mais intenso, mesmo em níveis considerados moderados.
Na prática, a mensagem dos autores é que essas evidências sirvam tanto para decisões mais informadas no dia a dia quanto para orientar políticas públicas que deixem mais claro o vínculo entre álcool e câncer, incluindo ações de prevenção, comunicação de risco e revisão de diretrizes de consumo.