Políticos e militantes de direita lançaram neste domingo (21/12) uma campanha de boicote à Havaianas, depois da veiculação de um comercial estrelado pela atriz Fernanda Torres. Na peça, ela afirma não desejar que as pessoas comecem 2026 com o “pé direito”, mas sim “com os dois pés”. A repercussão levou o tema aos assuntos mais comentados nas redes sociais.
A peça publicitária da Havaianas com a atriz Fernanda Torres foi excluída após campanha de boicote na internet
Foto: Reprodução/Havaianas
Em mensagens e vídeos, usuários sugeriram que consumidores substituíssem a marca por outros modelos de chinelos e publicaram registros queimando ou jogando as sandálias no lixo. A reação digital organizada passou a mirar não só a campanha, mas também a escolha da protagonista do anúncio.
A indicação de Fernanda Torres como rosto principal da campanha foi um dos gatilhos para o grupo. A atriz protagonizou o filme “Ainda Estou Aqui”, sobre o período da ditadura militar, vencedor do Oscar de melhor filme internacional, o que reforçou a leitura política de parte da direita sobre o comercial.
No vídeo, Torres afirma não querer que o público confie apenas na sorte ao começar o ano, defendendo que as pessoas entrem em 2026 “com os dois pés” em diferentes situações do cotidiano. A mensagem foi interpretada por críticos como uma provocação à simbologia associada ao “pé direito”.
Entre os políticos que engrossaram o boicote está o vice-líder da oposição na Câmara, deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), que publicou vídeo se desfazendo de um par de sandálias da marca e conclamando o público a optar por concorrentes. Outros parlamentares repetiram o gesto em seus perfis.
O deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), classificou o comercial como uma “vergonha” e acusou a marca de promover uma “campanha para provocar e dividir” às vésperas do Natal, criticando o teor da ação publicitária.
Na avaliação de Pazuello, o Natal não combinaria com “deboche ideológico” nem com desprezo por valores de parte da população. Ele sustentou que o chamado “povo conservador” reagiria retirando apoio e espaço de mercado da empresa.
O movimento também chegou a políticos locais. O vereador do Recife (PE) Gilson Machado Filho (PL), filho do ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, questionou em rede social se, além de evitar o uso da cor vermelha no Natal, agora também seria o caso de boicotar as sandálias da marca, afirmando que a empresa teria “errado feio”.
Em São Paulo (SP), vereadores passaram a compartilhar críticas ao comercial, acusando a Havaianas de transformar um “símbolo brasileiro” em instrumento de disputa política e associando a peça a uma suposta preferência pelo “pé esquerdo”, em referência ao espectro ideológico.
Na Câmara de Porto Alegre (RS), vereadores também aderiram ao boicote. Em publicações, eles ironizaram a posição política atribuída à fabricante de chinelos e contrapuseram a campanha da Havaianas à de uma marca concorrente, apontando diferenças no perfil das personagens femininas escolhidas para representar cada empresa.
Até a conclusão desta reportagem, a Havaianas não havia divulgado posicionamento oficial sobre as críticas e a mobilização de boicote. A empresa, no entanto, optou por remover o vídeo de seus perfis na internet, em meio à escalada de ataques e à repercussão negativa entre parte do público conservador.
