Economia

Prefeituras de Minas encerram 2025 sob incerteza fiscal e temem piora em 2026

Pesquisa da CNM com apoio da Associação Mineira de Municípios mostra gestores mais céticos, alta de restos a pagar e alerta para impacto de novos projetos em Brasília sobre finanças locais

22/12/2025 às 08:39 por Redação Plox

A poucos dias do fim de 2025, prefeituras de Minas Gerais enfrentam incertezas sobre a situação fiscal com a qual vão iniciar 2026. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que metade das administrações municipais mineiras (51%) relatam insegurança em relação à gestão fiscal no próximo ano.


O levantamento indica ainda que, para 35% dos prefeitos do Estado, 2026 tende a ser um ano ruim ou muito ruim para as finanças municipais — percentual idêntico ao verificado no cenário nacional. A baixa expectativa está diretamente ligada ao desempenho de 2025: três em cada dez municípios mineiros devem encerrar o ano deixando restos a pagar sem fonte de recursos indicada para cobrir essas despesas em 2026.

Resto a pagar é prática comum, mas pressiona orçamento

De acordo com a CNM, a existência de despesas que “sobram” para o exercício seguinte é um mecanismo previsto e recorrente, associado à continuidade de programas, obras e serviços que não se encerram em um único ano orçamentário.

O presidente da entidade, Paulo Ziulkoski, ressalta, porém, que a pressão sobre o caixa das prefeituras se agrava quando o Congresso Nacional aprova projetos que ampliam gastos municipais sem indicar as fontes de custeio. Na avaliação dele, a obrigação de bancar novas despesas leva os gestores a deslocar recursos de áreas discricionárias, como investimentos, para o pagamento de contas correntes, o que acaba empurrando parte das obras e contratos para o ano seguinte na forma de restos a pagar.

Novas leis elevam custos e ampliam preocupação

Entre as matérias recentes aprovadas em Brasília e apontadas como fator de risco pelos municípios está o projeto de lei complementar 185/2024, que prevê aposentadoria diferenciada para agentes comunitários de saúde e agentes de combate a endemias em todo o país.

Segundo cálculos da CNM, a medida pode gerar um gasto adicional de R$ 103 bilhões aos cofres municipais. A confederação destaca que propostas como essa se somam a outras que criam encargos permanentes, como a instituição de novos pisos salariais, mudanças nas regras previdenciárias e ampliações de gratuidades em serviços municipais, sem a definição de receitas específicas para cobrir o aumento de despesas.

Prefeitos reclamam de decisões tomadas sem ouvir municípios

Na avaliação do presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e prefeito de Patos de Minas, Luís Eduardo Falcão, o encarecimento da máquina pública municipal está ligado à forma como essas propostas avançam no Congresso, sem participação efetiva das prefeituras ao longo da tramitação.

Ele cita como exemplo a PEC da Segurança Pública, em discussão em Brasília, que prevê a criação de uma Polícia Municipal. Para Falcão, a proposta ilustra o temor dos gestores em relação à ampliação de atribuições sem a contrapartida financeira adequada, em um cenário em que muitos municípios já relatam dificuldades para manter estruturas de segurança existentes e realizar investimentos básicos.

Otimismo recua e ceticismo cresce entre gestores

Os resultados da pesquisa da CNM apontam que o humor dos prefeitos piorou em 2025. Ao fim de 2024, 49,5% dos gestores se declaravam otimistas; em 2025, esse índice caiu para 41,7%. A entidade atribui o recuo à experiência acumulada no primeiro ano de mandato, marcado por crise financeira e escassez de recursos em nove de cada dez municípios, além de instabilidade política e econômica para dois terços dos entrevistados.

Outro dado que chamou a atenção foi o avanço da postura de indiferença ou ceticismo em relação a 2026. Enquanto em 2024 apenas 1,7% dos prefeitos se diziam indiferentes, em 2025 o índice saltou para 16,5%, segundo a CNM. Para a entidade, esse movimento reduz tanto visões excessivamente otimistas quanto pessimistas e indica uma transição para expectativas mais moderadas.

Principais desafios econômicos apontados em Minas

Na sondagem feita com os municípios mineiros, os principais desafios à gestão econômica foram listados da seguinte forma:

Crise financeira e falta de recursos: 18%
Reajustes salariais: 14%
Instabilidade política e econômica: 15%
Meio ambiente e desastres naturais: 9%
Segurança pública: 8%
Saúde: 14%
Educação: 10%
Desastres climáticos: 7%
Outros: 4%

Como os prefeitos veem 2026

Questionados sobre as expectativas econômicas para 2026, os gestores municipais de Minas responderam:

Muito ruim: 8%
Ruim: 27%
Indiferente: 16%
Boa: 41%
Muito boa: 5%

Dos 853 municípios mineiros, 701 participaram da pesquisa, realizada pela Confederação Nacional de Municípios.

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