Política

Corrupção se alastra em Brasília e poderosos tentam se proteger

Suspeitas no Judiciário, dinheiro vivo no Congresso, quadrilhas no INSS e avanço do crime organizado reforçam cenário de impunidade e cobram reação da PGR e do Parlamento

24/12/2025 às 11:53 por Redação Plox

Brasília voltou ao centro de uma narrativa que o país conhece bem — e que insiste em se repetir. Um apanhado recente de fatos envolvendo os Três Poderes, publicado originalmente pela Folha de S.Paulo, expõe um padrão preocupante: elites políticas e institucionais agindo para se proteger enquanto a corrupção se expande sob uma atmosfera de impunidade.

Praça dos Três Poderes

Praça dos Três Poderes

Foto: Agência Brasília


O pano de fundo desse cenário foi a reação aos abusos cometidos durante a Operação Lava Jato. O que começou como uma correção necessária de excessos institucionais acabou, segundo críticos, abrindo espaço para um vale-tudo político e jurídico, no qual investigações são esvaziadas, decisões são blindadas e responsabilidades dissolvidas.

Casos que atravessam os Três Poderes

No Judiciário, a credibilidade do sistema foi colocada em xeque após revelações envolvendo a esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Reportagem do jornal O Globo apontou que ela manteve contrato de R$ 129 milhões com uma instituição financeira investigada. Há ainda relatos de contatos do ministro com o Banco Central sobre temas de interesse do banco. Moraes nega qualquer irregularidade.

Outro episódio envolve o ministro Dias Toffoli, que admitiu ter viajado em jato particular com o advogado de um dirigente de banco acusado de fraude estimada em R$ 50 bilhões. O caso foi colocado sob sigilo pelo próprio magistrado. Toffoli também anulou confissões de corrupção firmadas por empresas na Lava Jato, derrubando cobranças que somavam mais de R$ 17 bilhões em multas.

No Legislativo, o noticiário voltou a destacar apreensões de grandes quantias em dinheiro vivo com parlamentares, como no caso do líder do PL, Sóstenes Cavalcante. Paralelamente, o crescimento exponencial das emendas parlamentares ampliou o espaço para desvios e uso pouco transparente de recursos públicos, enfraquecendo mecanismos de controle do Congresso Nacional.

Já no Executivo, investigações revelaram a atuação de quadrilhas infiltradas no INSS, desviando recursos de aposentados e pensionistas. Os nomes de um irmão e de um filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceram em apurações preliminares, ampliando o desgaste político do caso.

No Rio de Janeiro, o avanço do crime organizado sobre estruturas políticas e institucionais reforça a percepção de que a corrupção deixou de ser episódica e passou a ser sistêmica.

O pacto da autoproteção

O ponto central levantado pela análise da Folha de S.Paulo é a existência de um pacto informal de autoproteção entre poderosos. Sob o discurso de defesa do Estado de Direito, setores do Judiciário, do Congresso e do Executivo teriam convergido para reduzir riscos pessoais e políticos, mesmo que isso implique enfraquecer investigações legítimas.

Petistas, bolsonaristas, integrantes do centrão e parcelas das elites institucionais aparecem, nesse contexto, menos como adversários e mais como beneficiários de um sistema tolerante à impunidade.

Um teste para as instituições

A Procuradoria-Geral da República, que atuou com firmeza contra ataques à democracia, é cobrada a adotar o mesmo rigor quando indícios envolvem ministros de cortes superiores. O Congresso, por sua vez, só poderá exercer seu papel constitucional de fiscalização se romper com o corporativismo e a opacidade no manejo do Orçamento.

A mensagem que emerge é direta: ninguém está acima da lei. A ruptura do pacto de impunidade não ameaça a democracia — ao contrário, fortalece-a. Quem perde são apenas os corruptos; quem ganha é o cidadão que financia o Estado com impostos e espera integridade de seus representantes.

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