Moradores de Ferros pedem a volta de calçamento histórico

A substituição dos paralelepípedos centenários na Rua do Rosário, no centro histórico de Ferros, causou indignação entre os moradores. A prefeitura da cidade mineira decidiu trocar o calçamento original por bloquetes, justificando a mudança por questões logísticas. Segundo o prefeito Raimundo Menezes, conhecido como Diquinho, “a logística da rua é muito ruim, com carretas atrapalhando o trânsito e dificuldades de manobra devido às pedras soltas”.

A Rua do Rosário é um importante ponto cultural da cidade, que abriga a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e é palco de manifestações artísticas desde 1986. A historiadora Maura Britto, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), alertou para o risco de descaracterização da cidade. “Além de ser uma área de relevância cultural, essa região está ligada à preservação da cultura negra, com parte da população afrodescendente residindo ali”, afirmou.

Moradora da cidade, Sandra Viana expressou sua insatisfação com a obra. “Removeram nosso calçamento de pedras do início do século passado para colocar bloquetes vulgares, apagando a nossa história e identidade”, disse Sandra. A historiadora Maura Britto também criticou a falta de comunicação com a comunidade. “Foi uma medida completamente impositiva. Não houve nenhuma comunicação com a comunidade para apresentar um plano de execução da obra”, criticou, acrescentando que procurou a ouvidoria do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para apurar a questão.

O prefeito Diquinho, no entanto, defendeu a obra, afirmando que a Câmara Municipal estava ciente de tudo e que a verba para a obra foi viabilizada pelo governo federal. Ele garantiu que as pedras retiradas estão armazenadas em um local seguro no município, sem especificar o local.

Essa não é a primeira vez que a preservação do patrimônio histórico de Ferros gera polêmica. Em 1962, a Igreja Matriz de Sant’Ana foi reinaugurada após a demolição da edificação original do século 18. A decisão foi tomada após um plebiscito proposto pelo então vigário, padre José Casimiro da Silva, que optou por uma nova sede mais moderna. A artista plástica Yara Tupinambá foi convidada a pintar um mural decorativo para o altar da nova igreja, o que também gerou debates na época.

Os moradores de Ferros agora aguardam uma solução que contemple a preservação de sua história e identidade cultural, enquanto a prefeitura mantém a posição de que a obra era necessária para melhorar a logística da cidade.