Mauro Cid e militares detalham plano golpista com ataques e assassinatos, revela PF

Investigações da Polícia Federal (PF) indicam que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), discutiu um plano de golpe com militares do Exército após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. As informações constam em um relatório da PF encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que aponta a possível participação de Bolsonaro e outros 36 indiciados na articulação de um golpe de Estado.

Diálogos apontam intenção de evitar diplomação de Lula

Em mensagens interceptadas pela PF, Mauro Cid conversa com o general Mario Fernandes, identificado como um dos mentores do plano golpista, sobre ações a serem realizadas antes de 12 de dezembro de 2022, data marcada para a diplomação de Lula e Geraldo Alckmin pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No áudio, Cid afirma:
“Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12, né? Mas com certeza não vai acontecer nada.”

A PF esclareceu que "o presidente" mencionado por Cid seria Jair Bolsonaro, enquanto os "caminhões" citados fazem referência a veículos enviados por fazendeiros para acampamentos em frente ao Quartel General do Exército, que pediam intervenção militar.

Atos de vandalismo e ataques após diplomação

Logo após a cerimônia de diplomação, em 12 de dezembro, apoiadores de Bolsonaro tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília, incendiaram veículos e destruíram propriedades. O grupo, oriundo do acampamento em frente ao Quartel General, também planejou atentados, incluindo o uso de explosivos no aeroporto de Brasília.

General Mario Fernandes é destaque em áudios reveladores

Mario Fernandes, preso na Operação Contragolpe, é apontado como o principal articulador do plano chamado “Punhal verde e amarelo”, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Em áudios atribuídos ao general, ele expressa apoio aos atos de violência:
“Vai começar a rolar sangue. Quanto mais se retardar uma ação efetiva, mais vão acontecer eventos como esse.”

Outro trecho mostra Fernandes desdenhando da Constituição:
“Quatro linhas da Constituição é o c... Nós estamos em guerra, eles estão vencendo.”

Estrutura organizada e penas previstas

A PF identificou a existência de grupos organizados dentro do plano golpista, divididos em núcleos como:

• Desinformação e ataques ao sistema eleitoral;
• Incitação de militares;
• Inteligência paralela;
• Operacional de apoio e ações coercitivas.

Os crimes listados no inquérito incluem golpe de Estado (4 a 12 anos de prisão), abolição violenta do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos) e organização criminosa (3 a 8 anos). Somadas, as penas podem chegar a 30 anos de reclusão.

Próximos passos e julgamento

O relatório, com 884 páginas, foi enviado ao STF, enquanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) avalia se apresentará denúncia contra os indiciados. Caso a denúncia seja aceita, os acusados se tornarão réus, e o julgamento pelo STF poderá ocorrer até meados de 2025.

A investigação, iniciada após os ataques de 8 de janeiro de 2023 contra as sedes dos Três Poderes, utilizou quebras de sigilos, buscas e apreensões, além de colaboração premiada. Segundo a PF, as evidências obtidas foram robustas e detalham a estrutura de um plano que buscava desestabilizar o regime democrático brasileiro.