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Guia inédito orienta coexistência entre pessoas e antas e busca reduzir conflitos no campo

Publicação do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar reúne 11 anos de pesquisas, traz práticas para proteger lavouras, orienta ações em encontros com animais feridos ou mortos e aposta no turismo de observação para fortalecer a conservação da Mata Atlântica

26/12/2025 às 11:01 por Redação Plox

Um novo material pretende transformar conflitos em convivência na Serra do Mar. Lançado em novembro pelos pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, o “Guia de Coexistência entre pessoas e antas” reúne orientações para aproximar comunidades humanas e o maior mamífero terrestre do Brasil, a anta (Tapirus terrestris), espécie hoje ameaçada de extinção.


A publicação, inédita no país, apresenta recomendações práticas para reduzir ameaças e interações negativas entre pessoas e o animal, com foco especial em áreas rurais e regiões onde a presença da anta provoca prejuízos em lavouras. O material é disponibilizado para download gratuito.


Voltado a gestores de Áreas Protegidas, comunidades locais, produtores rurais, estudantes, pesquisadores e demais interessados, o guia é resultado de 11 anos de pesquisas sobre a espécie e da primeira iniciativa estruturada de intervenção voltada à redução de conflitos entre humanos e antas na Serra do Mar.


Publicação gratuita apresenta soluções práticas para proteger lavouras, comunidades locais e a fauna silvestre.

Publicação gratuita apresenta soluções práticas para proteger lavouras, comunidades locais e a fauna silvestre.

Foto: Divulgação / Grandes Mamíferos Serra do Mar.


Ameaças à espécie e caminhos para a coexistência

Ao longo dos capítulos, o guia traça um panorama das principais ameaças enfrentadas pela anta no Brasil e na América Latina, como caça, atropelamentos em rodovias, ataques de cães domésticos e mortes por retaliação associadas a prejuízos em plantações.


O conteúdo também detalha aspectos da biologia da espécie e apresenta orientações para cultivo sustentável, abordando procedimentos em situações de encontro com o animal ferido ou morto. Além disso, indica formas de transformar a presença da anta em oportunidade de desenvolvimento local, com destaque para o turismo de observação de fauna.

Soluções para produtores rurais

Um dos pontos centrais da publicação é o capítulo dedicado aos produtores rurais, que reúne alternativas para proteger lavouras e reduzir danos causados pela espécie. Entre as medidas recomendadas está a instalação de barreiras físicas, como cercas elétricas, capazes de impedir o acesso das antas aos cultivos.


Esse tipo de proteção contribui para evitar prejuízos econômicos, diminuir a rejeição à fauna silvestre e reduzir casos de abate por retaliação, favorecendo um ambiente mais seguro tanto para as comunidades quanto para os animais.


As recomendações se baseiam em experiências do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, dentro da frente de atuação de Coexistência Humano-Fauna, no município de São Miguel Arcanjo, no interior de São Paulo, em parceria com produtores de uva da região. O projeto surgiu a partir de mais de uma década de estudos sobre as interações entre pessoas e antas, incluindo o mapeamento de áreas prioritárias para intervenção e um planejamento estratégico voltado à redução de conflitos.

Existem diferentes possibilidades de intervenção, mas o cercamento elétrico foi a alternativa exitosa nessa região. Este guia reúne todas as boas práticas desse projeto, e que podem ser adaptadas em outras localidades que tenham cenários similares — Mariana Landis

Além da aplicação direta em propriedades rurais, o material é apresentado como instrumento para fortalecer comunidades locais, estimulando a participação ativa na proteção da fauna e na preservação de seus próprios meios de vida.

Conservação com foco nas pessoas

O guia também defende uma abordagem mais ampla de coexistência entre humanos e fauna silvestre. A proposta é considerar, de forma conjunta, a conservação da espécie e as necessidades das populações que compartilham o território com a anta.


Nessa perspectiva, conflitos não são tratados apenas como problemas pontuais, mas como parte de uma relação que precisa ser redesenhada de maneira ética, considerando tanto a integridade dos animais quanto a realidade social, econômica e cultural das comunidades envolvidas.


Outro capítulo destaca oportunidades ligadas à presença da anta, em especial a observação de fauna como alternativa de geração de renda e de fortalecimento das ações de conservação. As ações foram construídas com base em um amplo arcabouço técnico-científico e em processos coletivos e participativos, o que, segundo os organizadores, favorece a replicação das estratégias em outros territórios.


Nesse contexto, ganha destaque o Projeto Anta à Vista, desenvolvido na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Trápaga, em São Miguel Arcanjo (SP). A iniciativa é apontada como a única, na Mata Atlântica, dedicada à observação de antas em vida livre e registra alta taxa de sucesso nos avistamentos, transformando a presença da espécie em atrativo turístico e fonte de renda.

Benefícios para a biodiversidade e para as comunidades

Para a conservação da Mata Atlântica, a presença da anta é considerada essencial, uma vez que o animal atua na formação e manutenção da biodiversidade dos habitats em que ocorre. Ao mesmo tempo, a espécie convive com comunidades que muitas vezes enfrentam contextos sociais complexos e carecem de informações e ferramentas para lidar com esses conflitos.


Nesse cenário, o guia é apresentado como uma resposta a uma lacuna histórica de conhecimento e boas práticas específicas para antas. Ao reunir ações pioneiras, o material busca apoiar localidades que convivem com populações importantes da espécie, oferecendo alternativas para minimizar, mitigar ou evitar conflitos.


Com isso, a publicação se insere em um esforço mais amplo de conservação, ao mesmo tempo em que propõe soluções que impactam positivamente não só a biodiversidade brasileira, mas também as comunidades que dividem o território com a fauna silvestre.

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