Economia

Rombo das estatais sobe a R$ 6,35 bi, liderado pelos Correios

Rombo nas empresas públicas, puxado pela crise fiscal dos Correios e por pedidos de aporte da Eletronuclear, leva governo a bloquear R$ 3 bilhões, enquanto relatório aponta riscos em outras estatais e gestão destaca lucro consolidado do setor

28/11/2025 às 11:04 por Redação Plox

O Banco Central informou nesta sexta-feira (28) que as empresas estatais federais acumularam um déficit de R$ 6,35 bilhões de janeiro a outubro deste ano.

Na prática, isso significa que, no período, essas empresas gastaram mais do que arrecadaram. O resultado parcial de 2025 já se aproxima do rombo de todo o ano passado, que havia sido o pior da série histórica.

A série do Banco Central, iniciada em 2002, não inclui Petrobras, Eletrobras nem estatais do setor financeiro, como bancos públicos. Entram nesse cálculo empresas como Correios, Emgepron, Hemobrás, Casa da Moeda, Infraero, Serpro, Dataprev e Emgea.

O Banco Central considera apenas a variação da dívida das estatais, conceito usado em análises fiscais internacionais. Já o governo utiliza a metodologia conhecida como “acima da linha”, que mede a diferença entre receitas e despesas.


Déficit bilionário das estatais pressiona as contas públicas, complica o Orçamento do governo e afeta os investimentos

Déficit bilionário das estatais pressiona as contas públicas, complica o Orçamento do governo e afeta os investimentos

Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Déficit das estatais pressiona Orçamento e força cortes

O desempenho negativo das estatais já tem impacto direto nas contas públicas. Como o rombo ultrapassou o limite autorizado, o governo foi obrigado a bloquear R$ 3 bilhões do Orçamento neste mês — recursos que, em tese, poderiam ser direcionados a outras áreas.

O déficit bilionário das estatais pressiona o ajuste fiscal, dificulta o cumprimento das metas orçamentárias e reduz a margem para novos investimentos públicos.

Correios agravam rombo com crise fiscal e plano de reestruturação

O resultado negativo foi puxado, principalmente, pelos Correios, que atravessam uma grave crise fiscal e viram seu desempenho financeiro se deteriorar em 2025.

A estatal detém monopólio em serviços como recebimento, transporte e entrega de cartas e cartões-postais, além da fabricação de selos.

Em 2024, o déficit dos Correios superou R$ 2,5 bilhões. No primeiro semestre de 2025, o prejuízo passou de R$ 4 bilhões, com projeções de chegar a R$ 10 bilhões até o fim do ano e a R$ 23 bilhões em 2026, caso não haja mudanças.

Em entrevista à GloboNews nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo não pretende retomar a agenda de privatização da empresa, em contraste com a orientação do governo anterior.

Não vejo um debate dentro do governo sobre privatizar Correios. Não vejo isso acontecer da parte de nenhum ministro que tenha proposto isso. Inclusive porque fizemos levantamento mais recente sobre a situação dos serviços postais no mundo. E é muito difícil um Estado nacional abrir mão de serviços postais, até porque parte dos quais são mesmo subsidiados para garantir a universalização

Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews

Após 12 trimestres seguidos de prejuízo, a nova gestão dos Correios aprovou neste mês um plano de reestruturação para garantir liquidez e preservar o papel da empresa como operador nacional de logística.

O plano se apoia em três eixos: recuperação financeira, consolidação do modelo de negócios e crescimento estratégico. A iniciativa inclui a captação de R$ 20 bilhões por meio de um consórcio de bancos.

Eletronuclear pede aporte e expõe impasse em Angra 3

Outra fonte de pressão sobre as contas públicas é a Eletronuclear, responsável pela operação das usinas de Angra 1 e Angra 2 e pela manutenção da estrutura de Angra 3, obra paralisada há dez anos.

A empresa pediu um aporte de R$ 1,4 bilhão ao Tesouro Nacional para enfrentar dificuldades financeiras.

Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional, apenas a manutenção dos equipamentos e da estrutura de Angra 3, ainda sem definição de futuro, custa cerca de R$ 1 bilhão por ano.

Estudos do BNDES estimam que a conclusão de Angra 3 custaria aproximadamente R$ 24 bilhões. O abandono do projeto também teria elevado custo, calculado entre R$ 22 bilhões e R$ 26 bilhões.

Nesta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou a jornalistas que a situação da Eletronuclear está em fase de definição, mas evitou detalhar os próximos passos.

Tomada a decisão, a gente tem de correr para tomar a melhor solução financeira, de continuidade ou não, e todo esse ecossistema ao redor. Importante para o país tomar uma decisão definitiva. Não está no nosso radar fazer um aporte imediato, nesse ano ainda. Tesouro e BNDES vão se dedicar a ter uma solução

Rogério Ceron, do Tesouro Nacional, sobre a Eletronuclear

O Relatório de Riscos Fiscais da União de 2025, do Tesouro Nacional, também alerta para outras estatais que podem demandar aportes e, assim, agravar o déficit público.

Além da Eletronuclear, o documento aponta sinais de preocupação na Casa da Moeda, na Infraero e nas companhias docas de cinco estados: Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro.

Governo alega que déficit reflete mais investimentos e dividendos

Procurado, o Ministério da Gestão afirmou que o déficit no resultado primário das estatais não deve ser automaticamente interpretado como prejuízo operacional.

Segundo a pasta, das 20 empresas incluídas na estatística fiscal, 15 registram lucro em 2025. Destas, 11 apresentam simultaneamente lucro e déficit fiscal, e quatro têm lucro e superávit. Nesses casos, o Ministério atribui o déficit, em boa parte, ao aumento de investimentos.

Juntas, essas 15 estatais lucraram R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre de 2025. Apenas cinco empresas aparecem com déficit e prejuízo ao mesmo tempo, informou o ministério em nota.

A pasta reiterou que, na maioria das estatais, o déficit decorre sobretudo do crescimento dos investimentos e do pagamento de dividendos.

De janeiro a setembro de 2025, as 20 estatais federais consideradas pelo Banco Central investiram R$ 3,2 bilhões e pagaram R$ 1,74 bilhão em dividendos e participação nos lucros. Esses desembolsos entram na estatística primária como despesa e podem gerar déficit mesmo quando são financiados com recursos em caixa ou lucros acumulados em 2024 e anos anteriores.

Lucros expressivos quando se inclui Petrobras e bancos públicos

Ao se considerar também a Petrobras e os bancos públicos, o Ministério da Gestão destaca que o conjunto das estatais federais apresenta lucros operacionais elevados.

De acordo com a pasta, 39 das 44 estatais registraram faturamento de R$ 655,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, alta de 3,1% em relação ao mesmo período de 2024. Na mesma comparação, o lucro dessas empresas somou R$ 92,4 bilhões, incremento de 54,4% frente aos seis primeiros meses do ano passado.

Para o governo, esses resultados precisam ser levados em conta na avaliação da saúde financeira do conjunto das empresas estatais.

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