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China lança plano quinquenal para driblar desaceleração e apostar em boom tecnológico

Novo plano de desenvolvimento a partir de 2026 combina estímulos ao consumo, foco em indústrias exportadoras avançadas e forte investimento em inteligência artificial, em meio à crise imobiliária e à tentativa de reverter a queda de natalidade

28/12/2025 às 11:43 por Redação Plox

A China inicia em 2026 um novo plano quinquenal de desenvolvimento econômico e social em meio à desaceleração recente da atividade. O desafio de Pequim será conter a reação internacional à sua poderosa máquina de exportações sem comprometer o espaço já conquistado no comércio global.

Fomento à atividade engloba promessas para promover o consumo doméstico

Fomento à atividade engloba promessas para promover o consumo doméstico

Foto: Pixabay


Pequim aposta em tecnologia e tenta preservar setor imobiliário

O governo chinês busca preservar os dois principais motores de crescimento: o setor imobiliário, em crise prolongada, e o boom tecnológico. A estratégia mira maior independência em áreas consideradas críticas e tenta aproximar o país da supremacia hoje exercida pelos Estados Unidos.

Dentro desse esforço, o plano prevê estímulos à atividade econômica com foco no fortalecimento do consumo doméstico. Em paralelo, recorre a métodos considerados tradicionais para enfrentar o problema demográfico: a intenção é tributar camisinhas para tentar elevar a taxa de fecundidade, em linha com a agenda de reversão do envelhecimento populacional.

“Em 2026, inicia-se um novo plano quinquenal. E o plano é ambicioso, como de costume”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Na prática, não deve haver muitas mudanças no desenvolvimento focado em indústrias exportadoras, de crescente sofisticação e complexidade”, pontua Sobral, ex-economista do Santander. “Cada vez mais a China deve ser capaz de competir em setores que hoje ainda são dominados por países desenvolvidos e de apresentar inovações na fronteira entre academia e indústria. É uma versão da estratégia de desenvolvimento adotada pelos casos bem-sucedidos de desenvolvimento no leste da Ásia, com abrangência e escala muito maiores”.

Bolsa e startups de chips refletem corrida por IA

A confiança dos investidores na estratégia de inovação aparece com força nos ativos ligados à tecnologia de ponta. Nas estreias em bolsa, as ações da startup chinesa de chips MetaX dispararam quase 700% em meados de dezembro, após uma oferta pública inicial que levantou 4,20 bilhões de yuans, o equivalente a US$ 596,4 milhões.

Outro destaque é a Moore Threads, projetista de unidades de processamento gráfico voltadas ao treinamento de inteligência artificial. A demanda pelos papéis foi tão intensa que a própria empresa chegou a pedir cautela aos investidores. As comparações com gigantes do setor, como a Nvidia, alimentam o debate sobre até que ponto essa euforia pode se transformar em bolha.

Fiscal deve reagir, mas crescimento tende a perder fôlego

Na execução do novo plano, analistas da Capital Economics estimam recuperação dos gastos fiscais no início de 2026, impulsionada por maior emissão de títulos do governo central. A avaliação é de que isso deve ajudar a impedir um aprofundamento da desaceleração recente, mas o crescimento no ano tende a ser um pouco mais fraco do que em 2025.

A consultoria projeta que o investimento ligado à IA terá forte expansão, enquanto as exportações devem contribuir menos para o avanço do PIB. Nesse cenário, projeções de mercado começam a ser ajustadas para cima por alguns institutos, mas seguem abaixo da meta informal que Pequim deve perseguir.

A economista-chefe para a China e diretora de Economia Asiática do Bank of America, Helen Qiao, elevou suas projeções e agora espera alta de 4,7% do PIB em 2026 e de 4,5% em 2027, acima do consenso de mercado. “Com sinais positivos surgindo das recentes negociações comerciais e com a implementação de estímulos, os riscos para nossa previsão estão inclinados para cima”, pontua.

Já Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, prevê crescimento mais contido. Segundo ele, “a expectativa geral aponta para uma desaceleração gradual, mas controlada, do crescimento do PIB, com projeções de agências financeiras e instituições internacionais variando entre 4,0% e 4,6% para 2026, abaixo da meta informal de 5% que o governo chinês provavelmente buscará para combater a deflação”. Barenboim antevê expansão mais próxima de 4%.

Setor imobiliário segue como elo frágil

O mercado imobiliário permanece no centro das preocupações sobre a atividade. Os sinais emitidos pela Conferência Central de Trabalho Econômico indicam que o apoio adicional ao setor tende a ser apenas moderado, o que mantém dúvidas sobre a capacidade de evitar novos sobressaltos.

Nesse contexto, o desfecho do caso da incorporadora China Vanke é visto como um teste para medir até onde autoridades locais e órgãos estatais estão dispostos a ir no socorro às empresas do setor. A SZMC, integralmente controlada pela Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais do município de Shenzhen, detém 27,18% de participação e é a maior acionista da Vanke, segundo a Fitch.

Entre janeiro e novembro de 2025, a SZMC injetou cerca de 29 bilhões de yuans (US$ 4,2 bilhões) na incorporadora, ajudando no pagamento de dívidas no mercado de capitais. Ainda assim, a companhia continuava enfrentando dificuldades financeiras e carregava um passivo da ordem de US$ 50 bilhões, de acordo com a Yardeni Research.

Para a consultoria, o caso não configura um evento comparável ao colapso do Lehman Brothers, mas tem potencial de abalar o sentimento do mercado.

Não se trata do temido ´momento Lehman’ da China. Mas o impacto psicológico da incapacidade da incorporadora imobiliária chinesa Vanke de pagar suas dívidas em dia não pode ser subestimado. Os problemas da Vanke sugerem que as dificuldades do setor imobiliário estão longe de terminar, tornando as metas de crescimento do PIB do governo ainda mais distantesYardeni Research

Pequim usa impostos para tentar reverter crise demográfica

Enquanto lida com o “motor engasgado” da construção civil, a China busca alternativas para garantir o crescimento em horizontes mais longos. Uma das frentes é demográfica. A partir de 1º de janeiro, o país voltará a cobrar imposto sobre valor agregado (IVA) sobre medicamentos e produtos contraceptivos, rompendo uma isenção que durou mais de três décadas.

A medida tem como alvo o declínio populacional que começou a se acentuar nos últimos anos, após um longo período de política do filho único. Ao encarecer contraceptivos e remédios ligados ao controle de natalidade, o governo tenta estimular famílias a terem mais filhos e reverter o quadro em que o número de mortes já supera o de nascimentos no país.

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