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Economia
BC manda apagar 9,1 milhões de chaves Pix de CPFs irregulares e aperta cerco contra fraudes
Instituições financeiras excluíram 13,4 milhões de chaves de pessoas físicas e 5 milhões de empresas em dez meses; Banco Central fecha o cerco a prestadores de tecnologia, prepara score antifraude com IA e estuda ajustes no botão de contestação
31/12/2025 às 15:58por Redação Plox
31/12/2025 às 15:58
— por Redação Plox
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Instituições financeiras e de pagamento excluíram chaves Pix de 9,1 milhões de brasileiros com CPF irregular na Receita Federal nos últimos dez meses. A medida atende a uma determinação do Banco Central (BC) para reforçar a segurança do sistema financeiro nacional e combater fraudes.
Ao longo de cinco anos, boa parte dos brasileiros aderiu ao Pix
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Os números apurados na reta final do ano superaram a estimativa inicial do BC, que previa impacto em cerca de 8 milhões de chaves com algum tipo de problema ligado ao CPF.
Limpeza de cadastros e impacto sobre usuários
Foram canceladas chaves Pix de pessoas físicas com CPF suspenso, nulo ou cancelado, além daquelas cujos titulares já faleceram. A orientação do regulador, dada em março, teve como objetivo coibir golpes e fraudes, sem atingir contribuintes apenas inadimplentes no pagamento de tributos.
Na avaliação do Banco Central, o efeito da iniciativa é positivo, embora ainda não seja possível medir quantas fraudes foram evitadas. Ao “limpar” a base de dados, a autoridade monetária entende que fica mais difícil para criminosos criarem chaves com grafia parecida com a de empresas legítimas para aplicar golpes. Problemas de grafia representavam a maior parte dos casos, segundo o BC.
Pessoas físicas podem cadastrar até cinco chaves Pix por conta, enquanto pessoas jurídicas podem ter até 20 chaves. De março a 20 de dezembro, o BC calcula que foram excluídas 13,4 milhões de chaves Pix de pessoas físicas e outras 5 milhões vinculadas a empresas.
No caso das pessoas jurídicas, 3,4 milhões de chaves estavam ligadas a CNPJs em situação irregular na base cadastral da Receita Federal.
BC aperta cerco e reforça segurança do sistema
O reforço na segurança do Pix, que completou cinco anos de operação em 2025, virou prioridade no Banco Central após casos de ataques hackers com desvios milionários. Nos últimos meses, o BC anunciou uma série de medidas para fechar brechas que aumentavam a vulnerabilidade do sistema de pagamentos instantâneos, com foco especial em instituições que se conectam ao sistema financeiro por meio dos PSTIs (Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação).
O BC excluiu de forma definitiva 33 instituições do Pix e suspendeu outras sete de forma cautelar, após constatar fragilidades na implementação de mecanismos de gerenciamento de risco de fraude.
Outras 31 instituições, que atuam sem autorização do regulador, terão até 3 de março de 2026 para se adequar às novas regras e encontrar um novo “tutor” que seja participante direto do Pix. Se não cumprirem as exigências, também serão retiradas do sistema.
Desde a adoção das medidas emergenciais, não houve novos ataques cibernéticos registrados pelo BC. O último incidente ocorreu em outubro.
O tema de segurança cibernética é uma atenção permanente. Esse é o grande ponto de atenção dos sistemas de pagamentos de forma geral, e do Pix em particular
João Manoel Pinho de Mello, ex-diretor do Banco Central
A área responsável pela segurança do Pix conta hoje com nove funcionários e, a partir do próximo ano, passará a ter sete servidores dedicados integralmente à função.
Nova geração de ferramentas contra fraudes
Para 2026, o Banco Central prepara uma nova etapa na agenda de segurança do Pix. Ao longo do ano, a equipe técnica trabalhará no desenvolvimento de um “score” de probabilidade de fraude, um indicador que apontará o risco de uma transação ser fraudulenta.
A expectativa é que esse índice sirva de apoio para que bancos e demais instituições financeiras decidam se autorizam ou não uma transferência iniciada pelo usuário. O modelo usará técnicas de inteligência artificial e machine learning, baseadas em informações de transações e registros de fraudes no DICT (Diretório de Identificadores de Contas Transacionais), banco de dados gerido pelo BC com os cadastros dos usuários.
Por causa da complexidade do projeto, esse novo sistema só deve entrar em operação em 2027.
Botão de contestação e baixa taxa de ressarcimento
Outra frente em análise pelo BC é o aperfeiçoamento do botão de contestação do Pix, criado para facilitar a comunicação entre usuários e instituições em casos de golpes e fraudes.
Desde que o recurso se tornou obrigatório nos aplicativos das instituições financeiras, em outubro, o número de pedidos de devolução de valores cresceu de forma significativa. Ainda assim, a taxa de ressarcimento permanece abaixo de 10%, abaixo do esperado pelo regulador.
Por ora, o Banco Central avalia que o mecanismo não atingiu o objetivo desejado. A estratégia será seguir monitorando os dados nos primeiros meses do ano e, se a taxa continuar estável, indicando baixa efetividade, promover ajustes na ferramenta.
Desafios para rastrear operações com Pix no exterior
O BC também pretende fechar brechas na oferta de Pix no exterior, por meio da regulamentação de intermediários. Hoje, a autoridade monetária não consegue monitorar completamente a atuação de estabelecimentos fora do país que aceitam Pix, como uma loja em Buenos Aires que recebe pagamentos de clientes brasileiros.
Nesses casos, o Pix é processado por um parceiro no Brasil que presta serviço ao comércio estrangeiro. Embora o BC consiga acompanhar o fluxo de recursos, não enxerga o momento exato da transação, o que dificulta a identificação do beneficiário final.
Essa opacidade abre espaço para lavagem de dinheiro ou outros tipos de fraude. A proposta é criar regras que permitam identificar com clareza os recebedores de Pix no exterior, o que pode envolver o aprimoramento da comunicação com as instituições financeiras. O trabalho já começou e deve avançar ao longo do próximo ano, com conclusão prevista também para 2027.